2009-11-30

A aula de E.A.I do pós-laboral hoje foi...

Visionamento do filme A Almadraba Atuneira
Ano: 1961
Duração:27´
16mm – preto e branco
Realização, Montagem, Fotografia e Produção – António Campos
Som – Alexandre Gonçalves
Rodagem – 1961/Ilha da Abóbora (Tavira – Algarve)
Estreia – 5 de Maio de 1979, RTP2
Obs. – Apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian e Grupo de Teatro Miguel Leitão.
Colaboração – Pescadores Octávia, Maria Manuela, Escalço Valadas e Malheiro do Vale.

sinopse:
Por altura da passagem dos cardumes de atum pela costa algarvia em direcção ao Mediterrâneo onde vão procriar, na costa sul da Península Ibérica mobilizam-se comunidades piscatórias muito peculiares. Os participantes das campanhas do atum vão preparar e lidar com as almadrabas, as hoje extintas armadilhas especiais para a captura do atum, desaparecidas devido à diminuição brutal dos cardumes e desvio de rotas. António Campos capta todo o processo de preparação dessa pesca artesanal até à «matança», acompanhando por uma temporada as actividades no arraial que se instalava na ilha da Abóbora, diante da localidade de Cabanas de Tavira. Foi a última campanha daquele arraial, que o mar engoliria no Inverno seguinte – desapareceram as casas e a própria ilha –, e é um dos documentários maiores do cinema português.

2009-11-28

O meu contributo

Recordar é (re)viver...

O Algarve sempre foi uma região rica ao nível do seu património cultural que inclui tradições, mezinhas, poesia popular, provérbios, artesanato, acontecimentos festivos, festas populares. Infelizmente este património cultural não tem sido devidamente explorado. Veja-se a título de exemplo o “nosso” poeta mais carismático, o António Aleixo que, apesar de conhecidas algumas das suas quadras a nível nacional, aqui no Algarve a sua vida e obra não tem o reconhecimento que deveria ter. Veja-se a ausência da sua vida e obra nos currículos do ensino básico o que reflecte a ignorância manifestada por alunos do ensino superior sobre a sua obra. Em duas turmas do Curso de Educação Social, uma de regime diurno e uma de regime pós-laboral, a maioria dos alunos e alunas não conhecia quase nada da vida de António Aleixo e não eram capazes de dizer uma única quadra sua. Estranho! Este é um exemplo, mas poder-se-iam apontar muitos outros relativamente ao conhecimento da nossa tradição oral.
É urgente levantar esta cortina do esquecimento e dar visibilidade ao nosso património cultural, valorizá-lo e preservá-lo. Preservar a nossa cultura é preservar a nossa memória, é consolidar o nosso sentido de identidade, de pertença a uma comunidade, a uma região com a qual nos identificamos. Uma comunidade, uma região, sem património cultural, é um espaço territorial com gente sem referências. Gente sem referências, é gente sem memória, gente sem futuro.
Com o objectivo de viabilizar a salvaguarda desse património há que pesquisar, identificar, registar, divulgar, valorizar, porque se não o fizermos, poderemos não deixar uma memória escrita onde as futuras gerações se possam rever e orgulhar da “sua” identidade. A identidade de uma comunidade, de uma região será importante para a afirmação de valores morais, éticos e culturais. A nossa História deverá ser mantida na lembrança, passando de geração para geração, por forma, a ser respeitada, valorizada e mantida.


[Uma história da Tia Rita Engrácia (Furnazinhas, Castro Marim)]:

Havia dois rapazes que já há muito tempo que não se encontravam. Um dia encontraram-se e estiveram a falar um com o outro. A certa altura um deles disse para o outro:
- Onde tens andado que já há tanto tempo que não te vejo?
- Ora essa, tenho andado a passear. Ainda sou muito novo, tenho tempo de trabalhar. Olha, há dias fui dar um passeio, vi muitas coisas importantes, mas o que gostei mais foi de ter visto uma couve, muito grande, muito grande.
- Olha, eu também há dias fui dar um passeio e estava lá uma feira com muitas coisas a vender, mas o que mais me agradou foi de ter visto uma panela muito grande, muito alta.
Diz o outro assim:
- E para que era essa panela tão grande?
- Pois era para cozer a couve tão grande que tu viste.

Um poema:

Encontro-me alegre e contente
Que ninguém queira saber
Com 68 anos de idade
Eu fui aprender a ler.

Mas quando eu ia para a escola
Muita gente pagodava
Mas eu fiz a minha vida
E a essa gente não ligava.

E porque tinha muita idade
E isso o que tem a ver
Quem tiver fé e vontade
Nunca é tarde para aprender.

[Rita Engrácia (Furnazinhas)]

"A Tia Rita nasceu em 1917. Em criança não pôde frequentar o ensino primário e viu na Educação de Adultos, uma forma de aprender aquilo que ficou para trás e que sempre desejou. Aos 67 anos vai frequentar o curso de Alfabetização da rede pública de Educação de Adultos. Dois anos mais tarde faz a 4ª classe e então pode começar a registar por escrito e a ler as suas poesias, histórias e quadras populares. Há três anos atrás com 89 anos a Tia Rita, passava parte do seu dia num lar, fazia empreita e dizia versos, mantendo-se uma pessoa bastante activa, comunicativa, alegre e sempre disposta a aprender. Espero que continue assim…por muitos anos."

A Catarina fez o seguinte comentário...

Sabe prof. Joca, sempre pedi ao meu pai para escrever os seus versos em papel, mas a resposta foi sempre a mesma: "não tenho cabeça para isso". Com esta recolha, ele ficou tão entusiasmado que parecia uma criança. Relembrou-se de alguns versos que já se tinha esquecido, dedicou-se com alma e coração e adorou a ideia. No fim ainda disse: "se não fosse eu, vocês não tinham conseguido". :-)
E agora até já diz que vai passar todos os seus versos para o papel. Escusado será dizer o quanto feliz estou. Esta recolha já deu frutos :-)
Ah...e até já marcou presença no encontro de poetas. Quem diria? E esta hein?

2009-11-24

Os "nossos" poetas

Versos soltos (Tia Conceição)

Bate leve, levemente
Como quem chama por mim,
Será chuva? Será vento?
Vento não será certamente,
E a chuva não bate assim!
Fui ver... É neve!
Neve que cai branca e fria,
Há quanto tempo eu não via!
Que saudades meu Deus...

Versos soltos (Tia Cristina)

A velhinha vai fiando,
A velhinha vai pensando,
Também foi nova e bonita,
Também teve o seu amor.
Foi casada e teve filhos,
Que lhe levou o Senhor.

Como a neta vai casar,
Pode bem acontecer,
Ter ainda que bordar,
Enxoval para o que vier...
A velhinha vai fiando,
A velhinha vai pensando!

Maria Laura Rodrigues António Revez
69 Anos, Professora do ensino básico na situação de reformada
Olhão


Poema dedicada à Sra. Alice

Alice uma grande senhora
Ela tem bom coração
É a nossa animadora
Ela dança como um pião.

Ela gosta de dançar a valsa
Ela dança muito bem
Ela dança com muita graça
Melhor que ninguém.

Ela é alegre e divertida
Esta nossa menina
Tudo faz parte da vida
Desta grande bailarina.

Ela conta histórias picantes
Que nos faz rir de gargalhada
Nestes momentos constantes
É mesmo uma senhora engraçada.

É assim que gosto de a ver
Sorridente com alegria
Eu também lhe queria dizer
Tenho por ela muita simpatia.

Ela é linda como o seu jeito
Esta senhora com alguns bens
Tenho por ela muito respeito
Quero lhe dar os parabéns.

Queria dizer a essa senhora divertida
A minha opinião
Deus lhe dê muitos anos de vida
E que ela viva com muita paixão.



Há meio século que casámos

Há meio século que casámos
Era-mos ainda crianças
Mas sempre nos amámos
Desde a nossa infância

Ela era linda como uma flor
Alegre e namoradeira
Dei-lhe sempre o meu amor
Ainda mesmo em solteira

Ela gostava eu também
Éramos os dois a gostar
Nunca digo a ninguém
O que fizemos antes de casar
Mas penso que fizemos bem
Como devem calcular.

O casamento é uma lotaria
Pode correr bem ou mal
Hoje já ninguém admira
Do divórcio dum casal.

A vida mudou, nem sempre no bom sentido
Hoje somos idosos e o melhor ficou para trás
Não tenha vergonha amigo
Vá sempre dando alguma enquanto fores capaz

Uma vida sem amor
É como uma flor sem água
Temos que dar e receber calor
Para que a vida não se torne em mágoa.

A vida não é nada
A vida não passa de uma ilusão
Se a vida não for amada
A vida será sempre desilusão.

Hoje estamos aqui como uma grande família
Á coisas que não posso ficar calado
Penso naqueles que sofrem com alegria
Porque só oiço falar do crédito mal parado.

Se a vida fosse vivida com mais harmonia
Com mais dignidade e compreensão
Haveria mais amor e alegria
Menos traidores e corrupção.

O verão já passou
O Outono está a chegar
Até o tempo já mudou
Posso dizer que está tudo a falhar.

Vivemos numa época que não dá para rir
Somos tratados como bonecos
Toda a gente sabe que não estou a mentir
O que será dos nossos netos.

Queria acreditar na fraqueza
Tenho receio de o fazer
Vivo fechado na incerteza
Enquanto eu viver

Vou dar isto por terminado
Não tenho mais para contar
Estou a ficar velho e cansado
Como devem imaginar

Se soubesse cantar, cantava
Acompanhado de um violino
Mas é melhor ficar calado
Para não dizerem: “Cala a boca Virgolino!”

Virgolino Louça
72 Anos
Almancil



Levantamento de literatura oral efectuado em 18.11.2009, pelas discentes:
Isabel Saúde (nº36762)
Margarida Correia (nº38005)
Patrícia Moreno (nº37546)

Os "nossos" poetas

NO âmbito do programa da u.c. de educação de adultos I foi proposto à turma do 2º ano, regime pós-laboral, um pequeno exercício de levantamento de literatura oral, para concretizar o estudo sobre património cultural.
Alguns grupos, na recolha de tradições, mezinhas, poesia popular, provérbios,rezas, recorreram a familiares e amigos. Muito bem!
Vou divulgar alguns desses poemas dos "nossos" poetas porque a maioria são familiares muito próximos dos alunos e alunas:


Luciano Viegas Trouchinho nasceu em 29 de Janeiro de 1936 em Marrocos. Muito pobre e quaisquer recursos económicos para tratar a sua doença aos seus 17 anos de idade, consegue um atestado de pobreza e 100$00 oferecidos pelos seus vizinhos, que o ajudam a migrar para Lisboa à procura de salvação. Sozinho e enquanto o corpo adoecia cada vez mais, tentava afastar o seu pensamento a escrever versos, conseguindo ainda angariar algum dinheiro para o seu tratamento.

Por causa de uma doença
Padecer na pobreza
É melhor por vezes morrer
Que assim viver na tristeza

Na flor da nossa idade
Ninguém devia adoecer
É melhor às vezes morrer
Que assim viver na Humanidade
Dizem ser uma realidade
Não possuir doença
É melhor morrer à nascença
Que assim tanto sofrer
Andar sempre a padecer
Por causa de uma doença

Um doente só com pensar
Na sua arruinosa situação
Arruína o coração
Por que o faz bem magoar
Não se pode melhorar
Porque vive na pobreza
Que no seu corpo existe
É uma coisa muito triste
Padecer na pobreza

Quando entrar uma doença
Muito tarda a sair
Para a gente possuir
É melhor morrer à nascença
Só o que um doente pensa
No seu triste padecer
Andar sempre a querer
Dessa maldita se salvar
Para uma delas nos atacar
É melhor às vezes morrer

Certas pessoas mimosas
Que no seu caminho vão seguindo
Saltando, gozando e rindo
Julgando ser orgulhosas
Dizem ser vaidosas
Por possuir certas riquezas
Mas surgem as tristezas
Que as fazem padecer
É melhor às vezes morrer
Que assim viver na tristeza.

*********************

Não quero quando morrer
Ir num caixão deitado
Para ninguém ficar a saber
Onde fui enterrado

Quero ir à electricidade
Para uma cova na serra
Para que em toda a terra
Que eu fui sepultado
Plantarem uma roseira
Que cresça ali a meu lado

Plantem também um lírio
Que significa martírio
Porque bastante passei
Pois isso que lhe ditei
É a pura da verdade
Para viver com lealdade
Temos de passar por santos
E por isso os encantos
Aparecem na serra
Outros aparecem na guerra
Pela sua valentia
Mas eu quando morrer um dia
Quero ir para baixo da terra

Mas não quero ir para o cemitério
Porque qualquer mistério
Que lá possa haver
Quero morrer num jardim
Pois eu quero enriquecer

Pelas suas lindas flores
Cada quais com suas cores
Faço venda a toda a gente
Cada molho 15 tostões
Vendendo flores e botões
Da campa de um inocente

Depois de estar completamente curado e sentindo-se mais forte, escreveu estes versos:

Numa noite de verão
Num campo desconhecido
Encontrei certo sujeito
Dentro de um saco metido

Era no mês de Agosto
No rigor do calor
Para procurar um amor
Pus-me a correr de gosto
Tinha já o meu rosto
Encarnado como pimentão
Pus-me a correr então
Nas terras mais modestas
Encontrei várias florestas
Numa noite de verão

Ao atravessar mata cerrada
Que era perfeita planície
Encontrei à superfície
A terra escavacada
E a olhar e sem ver nada
Procuro-me onde estou metido
Mas ainda como atrevido
Pus-me pela gruta a andar
O diabo fui encontrar
Num campo desconhecido

Era negro como o carvão
Com unhas grandes e rabo
Disse para comigo é o diabo
E pus-me em observação
Trazia cartas na mão
Um grande medalhão ao peito
E disse-me com brusco jeito
Vamos jogar uma cartada
E nessa terra malvada
Encontrei certo sujeito

A um joguinho que eu sei
Fomos jogar uma cartada
Dei a primeira trucada
E todas as vezes ganhei
Foi depois quando o fintei
Ao dizer-me seu atrevido
Você vai ser cozido
No inferno o vou devorar
Mas eu deitei-o a afogar
Dentro de um saco metido

Trabalho elaborado por:

Discentes:
Catarina Viegas, nº. 38000
Sara Guerreiro, nº. 33922

2009-11-23

Texto do aluno Zé Manuel

SERRA... S.O.S CULTURA
(Publicado no Jornal da Serra em 1994)
Cultura! Palavra abstracta... que significas? Para alguns menos informados (a par com os mais pretensiosos), talvez pouco mais sejas do que o retrato (por vezes auto) do Sr. doutor ou do Sr. engenheiro; do sábio e letrado que tão bem fala e tudo aparenta saber. Será isto verdade? Será que não há homens extremamente cultos, que não são sábios e sábios que não são cultos? E mesmo para uma grande parte daqueles que reconhecidamente têm um alto nível de cultura geral... será que o termo “geral” é tão abrangente quanto à primeira vista possa parecer? Vamos falar um pouco da cultura local das gentes da Serra!
Alguém em tempos definiu a cultura, como sendo tudo o que resta depois de termos esquecido a maior parte daquilo que aprendemos. Nesta perspectiva, não hesitamos em afirmar que as gentes da Serra são extremamente cultas. São detentoras de uma cultura própria, transmitida ao longo de gerações e fortemente reforçada por longas décadas de experiência, sacrifício e quantas vezes de sofrimento. Todos os seus saberes estão nitidamente gravados no único livro onde aprendeu a escrever: o livro da memória! Quando transmitem os seus conhecimentos, fazem-no com segurança, “sem necessidade de preparar a aula ou de consultar manuais”. Infelizmente os “alunos” são cada vez menos e o seu aproveitamento deixa cada vez mais a desejar. Não porque sejam maus alunos; mostram apenas desinteresse em aprender a matéria que estes professores leccionavam e que, devido à reforma do ensino, há muito que foi retirada do programa. Se por um lado isso se compreende e justifica, como sedo o ritmo normal da vida, não deixa no entanto de ser um pouco frustrante (sem querer ser excessivamente saudosista) ver desmoronar-se a ritmo assustador, um tão sólido castelo de saberes, sem que ao menos legue em testamento os últimos bens que possui: a sua história!
È verdade que hoje (felizmente) há bastante gente que conhece “e sente” os problemas da Serra; gente que tantas vezes luta contra a corrente, tentando resgatar das águas turbulentas quem (por descuido ou empurrado) perdeu o pé e não consegue sair sozinho. Também não é menos verdade que outros (os tais auto-retratos de pessoas cultas) vêm apenas refrescar-se nas águas frescas e despoluídas. Muita tinta corre hoje sobre os problemas da Serra. É simples: fazem-se duas ou três entrevistas, recolhe-se algum material, forma-se a nossa própria opinião sobre os usos e costumes da cultura local, joga-se hábilmente com palavras ou termos que causam impacto e estão tanto em moda (termos cujo significado assenta como uma luva à bela Serrania: desertificação, desumanização da paisagem, agricultura de subsistência, desertificação humana, crise cultural, etc., etc.) e aí está! Temos um belo texto sobre um tema apaixonante (a chamada civilização de modos de vida simples) que irá certamente, durante quatro ou cinco minutos, prender a atenção de centenas de leitores que pasmarão incrédulos, com a pintura de tão negro quadro.
Infelizmente quase sempre é esquecido um pequeno pormenor: as gentes que habitam a Serra! Quase sempre se esquece que esses focos de resistência humana, são a única razão porque hoje se continua a trabalhar na Serra. São constantemente remetidos para segundo plano; raramente são consultadas quando se decidem formas de resolver os seus problemas, sendo-lhes bastantes vezes impostas normas que não compreendem, para atingir fins que raras vezes acabam por lhes interessar. São deficientemente consultados quando se tecem considerações sobre a sua história, as suas tradições, a sua cultura. Este trabalho, ainda que feito por “técnicos de reconhecido valor”, raramente atinge a perfeição que seria de esperar. A razão é simples: normalmente acreditam demais nas suas faculdades; acham que lhes ensinaram tudo na universidade e esquecem-se de que as pessoas (mesmo os analfabetos), são a fonte mais rica de informações e sabedoria. Esquecem-se de que ouvindo as suas histórias e registando os seus saberes, se podem aprender coisas que nenhuma universidade ensina.
Há quem diga que só compreendemos aquilo de que fazemos parte; será provavelmente esta a diferença entre “o homem instruído que tudo sabe e o pobre homem da Serra, velho e analfabeto”. No entanto, enquanto o primeiro estudava Sócrates, aprendia a aplicar o Teorema de Pitágoras, ou analisava as consequências da Revolução Francesa, o segundo não parou no tempo e aprendia coisas bem diferentes e não menos complicadas. Enquanto aprendia a fazer todos os trabalhos do campo, ia aprendendo outras coisas como: identificar centenas de espécies de plantas; arbustos e árvores (largas dezenas destas plantas, poderia identificá-las de olhos vendados, utilizando o olfacto ou o tacto); quais as plantas que poderiam ser usadas para chás e “mesinhas”; quais as que poderiam matar um animal quando consumidas em excesso (através dos sintomas que o animal apresentava, podia por vezes identificar a planta que tinha provocado o seu envenenamento); tudo sobre os pássaros: o seu nome; identificá-los pelo “canto”; saber exactamente do que se alimentava cada espécie; identificá-los pelos ovos ou pelo ninho; saber os materiais que cada espécie utilizava para construir o ninho e os locais, árvores ou arbustos em que o construía, etc. Aprendia quando uma abelha é inofensiva e a identificar pelo zumbido, quando esta quer atacar; a saber como, quando e onde plantar ou enxertar cada espécie de arvore (uma árvore que plantada num determinado local se desenvolve normalmente, poderá ser eternamente raquítica se plantada a escassas dezenas de metros. Através da presença de determinados pássaros, aprendia a identificar a aproximação ou mudança de vento (em dias quentes e abafados de Verão, o “pedreiro” voa silencioso na frente do vento norte; o aparecimento e algazarra das “abelharucas”, assinala infalivelmente a aproximação de vento levante); etc, etc. A lista de saberes (a que se poderiam juntar crenças e superstições) seria enorme e para descrevê-la com rigor, era necessário mais do que um simples texto.
Quando descreve uma aldeia ou monte da Serra, invariavelmente o autor dá asas à veia poética do imaginário; “transporta-se para um passado longínquo”, apregoando a sentida sensação de que o tempo ali parou. Sou obrigado a discordar de quem assim pensa! Pelo contrário, acho que o tempo foi a única coisa que aqui se manteve em movimento constante; tudo o resto parou completamente, ou corre sério risco de o fazer. Há também quem descreva a paz e a calma que nos invade, quando nos aventuramos pela Serra, ou o silêncio terapêutico que nos rodeia, quando subimos um cerro e observamos a paisagem em redor. Alguém num desses momentos terá sequer imaginado como se apresentaria esse mesmo local, se tivesse sido observado três ou quatro décadas antes? Acreditem que o quadro seria bem diferente! O quadro seria bastante mais belo e o autor teria recolhido matéria para um texto incomparavelmente mais rico, sem necessidade de exibir a veia filosófica. Teria podido observar em redor largas dezenas de pessoas; várias centenas de animais sobressaíam na verdura de Março, ou confundiam-se com o amarelo torrado de Junho! O silêncio actual daria então lugar a uma enorme e saudável algazarra... o berrar contínuo das ovelhas e borregos; o som de centenas de chocalhos, que libertavam dezenas de notas diferentes; o som agudo e inconfundível das esquilas e guizos, que machos e mulas traziam dependurados nos cabrestos de “antrolhos” enfeitados; o “dlom dlom dos “raboleiros” das vacas que se ouviam a quilómetros de distância; o “azurnar” lento e preguiçoso dos burros; o “gornido” agudo e aflitivo do pequeno porco que levara uma “trombada” doutro mais forte, ao tentar disputar uma lesma ou uma cabeça de jarro; o ladrar incansável e repetitivo dos cães; a algazarra de milhares de pássaros; o grito que a águia soltava lá do alto, enquanto voava em círculos apertados e subia cada vez mais; o grasnar rouco e agoirento de bandos de corvos; o movimento rápido e silencioso duma cabrada, da qual só nos apercebíamos quando uma cabra espirrava a escassas dezenas de metros, ou quando ouvíamos o pssst... pssst do cabreiro, a advertir o deslize de um ou outro animal. Se prestássemos atenção, registaríamos ainda em pouco tempo, um repertório considerável de quadras e cantigas ao desafio que entoavam um pouco por todo o lado. Os seus ecos, confundiam-se com o praguejar do homem que se tinha desentendido com os animais que utilizava nas lides do campo, ou com os berros da mãe que “bradava” aos filhos que tinham ido “ó nino”, ou andavam chafurdando atrás dos peixes-sapos num pego do barranco próximo.
A cor amarela barrenta localizava inconfundivelmente, a uma distância de largas centenas de metros, os caminhos trilhados diariamente por grande número de homens e animais. Burros e muares iam apetrechados de maneira diferente, consoante a época do ano e os produtos que carregavam. Sobre a albarda levavam cangalhas, se transportassem lenha ou seara; zangarilhas com canastras, ou alforges com cestos se transportassem figos ou uvas; sacas “em carga” (presas com cordas e sabucarga) se transportassem amêndoas, bolotas, alfarrobas ou cereal em grão; gorpelha se transportassem “esterco”. Se fossem para a lavoura, transportavam charrua, monilha, canga e puxo (ou cangalho e boleia, se a parelha fosse substituída pelo “carramato”).
Quando se ia a uma feira ou mercado, a “albardadura” era diferente; a “xerga” era “composta” e o “bancal” era substituído pela manta montanheca. Quando o animal não tinha albarda... dizia-se que estava em osso!
São tradições e saberes como estes, que hoje estão em risco de desaparecer por completo. Quebrou-se o feed-back entre quem ainda possuí estes saberes (os idosos) e quem poderia minimizar a sua perda (os jovens). Penso que a escola poderia ter aqui um papel importantíssimo, e funcionar como tábua de salvação na defesa destes valores.
Zé Manel (aluno do 2º ano do Curso de Educação Social)

2009-11-20

Ainda a propósito da aula de dia 16

A propósito de Aleixo VS Educação de Adultos


Alguma coisa já vivi
Mas muito tenho p`ra aprender
Vou contar o que entendi
Do que me deram a conhecer

Educar não é só ensinar
É também perceber
Que nem todos somos iguais
E que iguais não queremos ser

P`ra educar o coitadinho
Tem que o doutor se educar
Não vá o pobrezinho
Ter algo p`ra lhe ensinar

Se dá trabalho nisto pensar
Então deixa-te adormecer
Não queiras ter tarefas
Nem queiras perceber


Que essa coisa é só p`ra quem
Procura algo na vida
Um caminho p`ra diferença
Tem que ser coisa sentida

Aqui deixo estas quadras
Espero que não sejam em vão
Se alguma coisa aprenderem
passem de mão em mão

Dulce Martins, nº36719
2º ano - Educação Social(regime diurno)

2009-11-19

A propósito da apresentação do Projecto da Cáritas Diocesana do Algarve

Aula de dia 19 Novembro de 2009- 3 Reflexões


Reflexão 1
Neste mundo globalizado, fruto da expansão e intensificação de interdependências e múltiplas influências nas mais variadas facetas que envolvem o ser humano, assistimos nas nossas sociedades actuais, cada vez mais multiculturais mas todavia significativamente assimétricas, ao agravar das desigualdades que se expressam a vários níveis, nomeadamente no campo económico-profissional, nas diferenças de “tratamento” entre géneros, estratos sociais, classes etárias e etnias, no acesso à educação e à cultura, na participação consciente e crítica da construção de sociedades mais justas e equitativas.
Assistimos à mundialização das finanças e economias e, com ela, o agravar do fosso entre “ricos e pobres”. A crise económico-financeira instalou-se e alastra mundo fora, agudizando as situações já se si precárias de inúmeros cidadão “marginalizados”, arrastando para um “nova pobreza camuflada” camadas da população até agora razoavelmente “bem instaladas” e poupadas a situações de privação várias, originando situações de desemprego que afectam cada vez mais famílias, imigrantes, mulheres sobretudo, profissionais liberais, transportando-os para momentos vivenciais de “sufoco” e até de desespero por vezes dramático, de conflitos e rupturas afectivas e económicas.
As sociedades da informação fomentam sociedades de consumo massivo de bens e serviços; instituições e empresas promovem e facilitam o acesso ao crédito “fácil” e rápido; famílias endividam-se na ânsia do “ter”, esquecendo ou relegando para segundo ou terceiros planos valores e princípios ético-morais inerentes ao “ser”, tais como a caridade, entendida como “amor ao próximo” e olhar para ele como ser semelhante a nós, com as suas necessidades, fraquezas e potencialidades, a humanização e a defesa da dignidade humana, o compromisso de todos na “luta” pelo desenvolvimento individual e colectivo de comunidades, rejeitando qualquer tipo de segregação, associado ao universalismo e à defesa dos direitos humanos, independentemente de divergências ideológicas, políticas, religiosas, de nacionalismos, entre tantos outros “ideais” que se desejam concretizáveis nestas nossas realidades cada vez mais individualistas, competitivas, cuja “máxima” se reduz à procura de eficácia e eficiência.
Neste âmbito, parece-me de todo valioso o trabalho desenvolvido pela Cáritas que, embora de cariz religioso, desenvolve trabalhos no sentido de promover estes e outros princípios e valores necessários ao desenvolvimento integrado da pessoa em interacção com toda a envolvente que a “atinge”, influencia e por ela é “condicionada” no seu crescimento como ser humano responsável e participativo.
De salientar o profissionalismo e a transparência em que assentam as actividades pela Cáritas empreendidas, em parceria com várias outras instituições e organismos, no intuito de desenvolver projectos direccionados para a integração de pessoas em situação de exclusão social, fruto de condicionantes vários (nacionalidade, género, idade, etc.), através não só de ajudas assistenciais, mas sobretudo a partir de incentivos à capacitação/formação profissional, no sentido de valorizar as competências e a auto-estima dos indivíduos, visando o seu empowerment, a sua emancipação e liberdade de expressão e participação activa e consciente na construção/reconstrução das suas vidas em sociedade.

Rosinda Santinha nº 3121

Reflexão 2
No dia 17 de Novembro de 2009 à hora marcada da aula da Unidade Curricular de Educação de Adultos fomos contemplados com a presença de quatro convidados responsáveis pela Cáritas Diocesana do distrito de Faro.
Apenas três dos quatro convidados participaram na palestra com uma exposição oral, e o que pretendiam era angariar voluntários para se unirem a esta instituição, contudo na minha opinião foram muito além disso, trouxeram-nos a explicação de valores imprescindíveis para nós enquanto futuros educadores sociais e acima de tudo partilharam os seu saber e as suas experiências do dia-a-dia de como lidar com os problemas da sociedade.
Além disso vieram descodificar a ideia, de que a Cáritas é de Igreja Católica, na verdade existe uma ligação entre ambas, mas todas Cáritas Diocesanas são entidades independentes. Que ajudam todos os que lhe batem à porta sem olhar à religião, a cor, às crenças, à cultura, à etnia, ou a situação em que se encontram. Pois a Cáritas Diocesana de Faro tenta sempre resolver as mais diversas situações de todos os que diariamente lhe chegam às mãos, presta serviços à comunidade efectivos não apenas em acções pontuais como a Casa da Mãe, ao seu infantário e à distribuição de alimentos e roupa que fazem com alguma regularidade; e os projectos que estão no papel mas que se prevê a sua criação num curto espaço de tempo, entre eles a mercearia social, o balneário social e o refeitório social.
Tendo em conta a nossa posição de estudantes foi também estimulante observar ex alunas do nosso curso integradas em projectos deste cariz e ouvir boas críticas ao nosso curso e aos nossos profissionais que já estão no terreno a trabalhar por parte do responsável da instituição.
Em conclusão, acho que este projecto veio mais uma vez puxar-nos para o voluntariado e a resposta foi claramente positiva pois os projectos desenvolvidos por esta instituição são sem dúvida aliciantes, quer para desenvolvermos o nosso espírito de solidariedade e entre ajuda ao darmos um pouco de nós sem receber nada em troca, quer para o nosso futuro próximo.
Alexandra Luz


Reflexão 3
No dia 17 de Novembro de 2009 por essas 14h00, realizou-se na Escola Superior de Educação, na Sala 95 uma apresentação sobre o Voluntariado – Cáritas Algarve.
Esta apresentação estava constituída por um homem e três mulheres. Duas delas foram alunas da nossa escola e frequentaram o nosso curso (Educação Social), a outra era a Irmã Beatriz Santos que é responsável pelo Sector voluntário. O homem era o presidente desta instituição.
Nesta apresentação aprendi que a Cáritas é uma instituição da Igreja Católica, que visa a servir não só o homem como a mulher a lutar pela defesa dos seus direitos e contribuir para a sua promoção e desenvolvimento integral na perspectiva da caridade. E caridade neste sentido não significa dar roupas ou comida para as pessoas, significa dar o amor que temos ao outro.
Esta instituição destina-se às mais diversas necessidades da comunidade, procura concretizar a opção preferencial da Igreja pelos mais pobres, tendo em conta que existe vários tipos de pobreza e que esta pode não significar apenas a falta de bens materiais, como também o isolamento, a falta de carinho/afecto/amor, discriminação por parte da comunidade e outras formas de exclusão.
Aprendi também que esta instituição tem sete valores, a humanização; o profissionalismo; transparência; compromisso; caridade; universalidade e por fim criatividade.
Durante o decorrer da apresentação o que destacou-se mais e o que me cativou mais foi o voluntariado, pois é algo bastante benéfico para o nosso futuro. O voluntariado tem por missão promover a procura de pessoas ou entidades que expressem a sua disponibilidade e vontade de prestar trabalho voluntario, contribuindo para a melhoria do bem comum das pessoas e das populações que necessitam.
Interessei-me bastante por este tipo de voluntariado e até inscrevi-me, pois esta instituição promove o voluntariado ao apoio a pessoas carenciadas, ao banco de alimentos, banco da roupa e campanhas de solidariedade, entre muitas outras. Estes voluntariados foi algo que sempre quis fazer, pois sinto que estou a ajudar as pessoas que precisam, pois hoje em dia existem muitas pessoas a precisar de uma mão, algo que as fortaleça e as ajude a levantar-se.
Para finalizar, na minha opinião eu achei que esta oportunidade foi bastante gratificante para todos os que assistiram, pois foi uma oportunidade bastante diferente.
Cindy Mascote, Nº36714

ainda a propósito da aula do dia 16

Bem...eu juro que tentei fazer uma quadra para mostrar a minha veia poética, mas qual não foi o meu espanto quando me deparei com a falta dela. Para onde terá ido?
Assim, vi-me obrigada a pedir ajuda a uma pessoa que tem muito jeito para a poesia (embora ela pense que não).
Aqui fica, o contributo da Drª. Cátia Fernandes da Apatris 21.
O meu muito obrigado.

A poesia popular
De antiga tem sabedoria
Não se trata de rimar
Nem tão pouco é tal mania

Mas referir os poetas
E a sua primazia
É como reviver um presente
Com sabor a marezia

Algarvio de gema
António Aleixo se destacou
Em terras de pescadores
Sua rima deslumbrou

Simples e humilde
Famoso pela ironia
Ainda hoje é lembrada
A sua obra e fantasia

E quem por Loulé passa
Não passa sem se sentar
Ao pé da imagem
Que o povo quis ofertar
Por respeito à grandiosidade
De quem sempre soube dar
Vitimado pelas injustiças
Que a vida soube roubar.

Catarina Viegas (2º ano do regime pós-laboral)

2009-11-18

Mais uma reflexão ...

Reflexão sobre Educação de Adultos

Escrever sobre este tema é mais difícil e complexo do que parecia, pelo menos à partida, a educação é um bem que deveria estar ao alcance de todos, pois uma pessoa dificilmente poderá ter uma vida digna num mundo globalizado e capitalista como o que vivemos actualmente, existem pessoas que infelizmente por terem vivido uma má infância ou por viverem isoladas da comunidade, não tiveram acesso a escolas. A educação para adultos pode ser uma esperança para que estas pessoas possam passar a desempenhar uma função diferente na vida e na comunidade onde estão inseridas, aumentarem a sua auto estima, valorizarem-se, e para desempenharem um papel mais activo enquanto cidadão, envolvendo-se e participando mais na vida da comunidade.
Sempre ouvi dizer que o mundo é a melhor escola da Vida e para mim nenhuma educação em meio escolar se pode comparar á experiencia adquirida ao longo de uma vida, as tradições, as experiências profissionais, não cabem dentro de um livro. Segundo Nóvoa existem seis princípios susceptíveis de servir de orientação a qualquer projecto de formação de adultos, um deles é o de saber respeitar a história de vida e a experiência profissional do adulto em situação de formação ”mais importante do que pensar em formar este adulto é reflectir sobre o modo como ele próprio se forma, isto é, o modo como ele se apropria do seu património vivencial através de uma dinâmica de compreensão retrospectiva” (Nóvoa, citado em Canário, 2000, p.21)
À medida que o modelo tradicional de educação se impõe nas escolas torna-se cada vez mais nítido a distinção entre a escola e a vida, é nesta medida que penso que a educação de adultos acima de qualquer coisa deve ter em especial atenção os saberes de cada indivíduo, a identidade, a cultura, as tradições, sabendo respeitar e trabalhar em conjunto e aprendendo em conjunto, “"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo; os homens educam-se entre si, mediados pelo mundo". (Paulo Freire)
Freire considera que o processo educativo não se restringe ao âmbito da instituição escolar, mas acredita que pode desenvolver-se nas mais diferentes práticas sociais. Daí a sua defesa de que o ponto de partida do acto educacional seja os saberes que trazem os educandos.
Considero de extrema importância a reflexão acerca dos pressupostos éticos, morais e políticos que condicionam a educação. Pois vivemos numa sociedade, em que as elites ditam quais as regras a seguir, quem come, quem estuda, quem é alguém. Os valores perdem-se no tempo e no espaço e o que prevalece é a lei do “mais forte” e do “salve-se quem puder”. A educação tem sido uma maneira de manter a ingenuidade dos educandos, criando sujeitos, espectadores, acomodados com os factos e situações diversas.
A prática de uma educação tradicional é uma mais-valia para os opressores, formar pessoas sem o poder de questionar e argumentar, pessoas que são espectadoras da sociedade, que apenas recebem e aceitam os factos e jamais participam neles. O depósito de conhecimento faz dos homens e das mulheres seres de adaptação e de ajustamento, impedidos/as de terem uma consciência crítica, é preciso mudar esta educação fazer dos alunos sujeitos do mundo e não meros objectos.
Encarar a experiência de vida como ponto de partida fundamental, para organizar projectos de formação origina que vejamos de forma diferente e critica todo o percurso realizado, tornando possível reconhecer situações, contextos e vivências formadoras, tal como identificar capacidades e saberes adquiridos na acção e que apelam a processos de formalização. Esta prática permite encarar o adulto como recurso da sua formação e evitar o erro de ensinar ás pessoas coisas que elas já sabem, ou que não lhes serve de nada.
Como futura Educadora Social, penso que é extremamente importante existirem projectos de apoio á educação de adultos, como é o caso dos Centros de Novas Oportunidades, que valorizam a vida, a prática, os saberes e os interesses de pessoas que muitas vezes não tiveram oportunidade de estudar pelas mais variadas situações e, já numa idade adulta apercebem-se da existência de uma lacuna nas suas vidas, pois já têm emprego, família, casa e, continua, a faltar-lhes o reconhecimento das suas competências.

Micaela Rolão (2º ano)

2009-11-17

Cronograma (regime diurno)

Cronograma de Actividades (Regime diurno)

Novembro

Dia 23 -Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros”
Dia 24 - Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros"
Dia 30 -Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros"
Dezembro

Dia 7-Educação de jovens e adultos e a prevenção da Toxicodependência
Projecto “Eu e os Outros"
Dia 9 - (aula de reposição) -Outros âmbitos de Educação de Adultos
Dia 9 -Aula tutorial
Dia 14 -Paulo Freire e a Educação de Adultos
Dia 15-Teorias que influenciaram o pensamento de Paulo Freire
Dia 15- Aula tutorial

Janeiro/2010
Dia 4 - Workshop
Dia 5-Workshop
Dia 5-Aula tutorial
Dia 11-Frequência
Dia 12- Auto e hetero-avaliação da Unidade Curricular

A propósito da aula de dia 16

A propósito da aula de educação de adultos sobre a poesia popular e a obra de António Aleixo a aluna do pós-laboral, Florbela Dias, no final da aula improvisou as seguintes quadras:

Não é por mania
Nem tão pouco para me armar
Mas falar em Aleixo
Deu-me vontade de brilhar

Escrever algumas linhas
Sem ter alguma intenção
É só mesmo porque estou
Numa aula de Educação

Dada pelo prof. joca
A aula tem mais valor
É um gajo todo dinâmico
Deixando-nos todos de bom humor

Reflexão sobre educação de adultos em Stª Luzia

Com o acontecimento do 25 de Abril de 1974, a Educação altera-se, nesta altura “a agenda dos movimentos sócio-culturais passa a ser outra: a do seu lugar e do seu papel na alteração profunda das estruturas sociais.” (Silva, A.S., 1990) Estruturas estas como organizações, associações, movimentos políticos que actuam a nível local e regional. “A perspectiva que então prevalece é claramente a da “educação popular”, nestes dois sentidos: primeiro, já não se trata de difundir o modelo escolar (…) mas sim de apostar, de um lado, na comunicação entre a escola e o meio social, e, do outro, nos processos educativos de aprendizagem por resolução de problemas e por diálogo entre formadores e formandos, no quadro de projectos e estruturas sociais colectivas; segundo, não se trata apenas de promover actividades educativas, mas, e sobretudo, de focalizar e desenvolver as dimensões educativas de práticas sociais, privilegiando, portanto, as condições e os recursos para capacitação, para aquisição de competências para agir, e as oportunidades e virtualidades formativas e comunitárias dos momentos e práticas lúdicas.” (Silva, A.S., 1990).
Este campo de Educação de Adultos caracteriza-se, “pela diversidade das iniciativas que se acolhem entre as suas fronteiras, elas mesmas dinâmicas.” (Silva, A.S., 1990) Essa diversidade começa por estabelecer diferentes problemas inerentes a este campo social, que da mesma forma o caracteriza, um desses problemas é o analfabetismo “em todas as suas variantes, a insatisfação de necessidades e procuras sociais em educação, a desarticulação orgânica dos diversos níveis e percursos escolares, dos diversos modos e canais de formação, e de todos eles com os mundos do trabalho, da domesticidade e da cidadania.” (Silva, A.S., 1990)
Foi neste contexto de promoção cultural e social que eu, juntamente, com um grupo de amigos criei em Santa Luzia – a minha terra -, um projecto para uma possível Associação que viria colmatar algumas lacunas existentes na nossa comunidade. Com muita convicção do que queríamos fazer e, principalmente, do que era necessário fazer, levámos a cabo a criação da mais recente Associação do concelho de Tavira, a Associação Almadrava – Rede Cultural e Social de Santa Luzia, criada a 22 de Junho de 2009.
Esta Associação surgiu pela “necessidade de dinamizar a vida cultural da localidade, sobretudo junto de públicos muitas vezes esquecidos como os jovens e os idosos, e de não deixar morrer as artes tradicionais. Está na génese deste projecto que pretende agir nos mais diversos domínios culturais, desde a promoção de oficinas ligadas às diversas artes tradicionais, passando pela educação ambiental, ocupação de tempos livres, promoção de artistas e artífices da terra e do concelho, e formação em domínios como as novas tecnologias, a língua portuguesa e estrangeira e, as artes como a dança, o teatro, o cinema ou a música”, pode ler-se no sítio da A. Almadrava na internet.
Para se ficar a perceber o que a A. Almadrava, neste seu pouco tempo de vida, já fez terei que começar do início. Desde mostras de filmes passados e actuais, a exposições, campanhas de solidariedade, formações de inglês básico (propriamente, direccionado para o dia-a-dia numa localidade que recebe turistas estrangeiros), entre outras actividades.
Vou falar mais concretamente, dum episódio que se passou em Agosto passado e, que mais tarde o recordei quando o professor comentou uma experiência sua, também, na minha terra, há já mais de 20 anos. Como a Associação queria mostrar ao pública as suas mais variadas perspectivas, durante 6 dias da ExpoLuzia – feira que antecede as Tradicionais Festas dos Pescadores de Santa Luzia -, e com o apoio da Junta de Freguesia que nos patrocinou dois pavilhões de exposições, conseguimos decorar, mostrar, explicar e até relembrar temas mais ou menos ligados à nossa tradição. No quarto dia da ExpoLuzia, teve lugar o tema – A Pesca; que por tão ligada estar à terra e às suas gentes, suscitou um interesse fora do comum, desde mostras de senhores a construir artes de pesca tradicionais, como a murejona ou o cove, tínhamos uma mostra de um filme dos nossos antepassados – Almadraba Tuneira – filme este que causou um “alvoroço” nesta terra tão pequena. Desde os mais idosos aos mais jovens, nós, enquanto Associação, conseguimos chegar às várias faixas etárias, uns porque queriam relembrar, outros para poderem ficar a conhecer o que foi a vida dos seus avós, ou bisavós. Como era também o meu caso, e sinceramente, também eu estava eufórica para assistir ao filme e, principalmente, ver as reacções daquelas pessoas tão ansiosas, que levaram dias a perguntar: “mas o filme é mesmo sobre as armações do atum?” ou “a que horas passa o filme?”Assim, com um pouco de boa vontade, interesse em conhecer e partilhar experiências, passando um bom momento, junto à ria formosa (mesmo em frente à antiga sede do Clube R.D. Santaluziense), montámos um projector, juntámos umas cadeirinhas e fizemos educação de adultos.Espero continuar a fazer parte duma Associação que tem como base geradora, manter viva a tradição e raízes duma cultura tão bonita como a da minha terra – Santa Luzia e, de, também, poder servi-la.
http://almadrava.pt.vu
Mariana Pereira (2º ano)

2009-11-15

Texto para discussão na próxima aula

Educação de Adultos e cultura popular

Vivemos hoje um tempo em que o computador se tornou num recurso quase indispensável à nossa vida. Serve para quase tudo, quando falamos de educação. Esse cérebro electrónico serve parar pesquisar, para comunicar, para registar, para ler, para estudar, para recordar. É um instrumento formidável, mas, não tão indispensável assim, ou seja, nunca poderá substituir-nos. Não é só, porque não precisamos de estar ligados a qualquer corrente ou bateria para funcionar, mas, sobretudo, porque o ser humano, ao contrário dos computadores, tem memória e memórias associadas a sentimentos e emoções. Muitas dessas emoções e formas de estar perante a vida serão resultado da experiência de vida, dos saberes, das crenças, dos costumes, da cultura de cada um de nós. Uma cultura que será sinónimo de um modo de ser e de viver, conforme o contexto, as regras de convivialidade, a gastronomia, a forma de falar, a forma de estar, a forma de comunicar.
No Algarve, como no resto do nosso país, com contextos tão diversificados, com formas de ser e de estar tão diferentes, poderemos falar de uma cultura regional ou nacional, ou teremos de falar de culturas? Partindo desta ideia de cultura, entendido em sentido mais amplo, ou seja, cultura como o produto das diferentes maneiras de ser, estar, agir, será que podemos dizer que, provavelmente, toda a cultura é cultura popular, porque não subsiste cultura sem a adesão das pessoas. Este conceito de cultura popular nunca foi muito bem definido pelas Ciências Sociais e Humanas, daí a variedade de definições que comporta. Será que existe uma cultura que é popular e outra que não é? Será que existe uma cultura popular e uma cultura erudita? Será que essa cultura dita “erudita” não incorporará também crenças, saberes, modos de estar e agir com raízes no passado vivido pelo povo, a cultura praticada no quotidiano das pessoas.
O que parecemos saber é que não haverá pessoas com cultura e pessoas “sem” cultura e também não terá muito sentido admitir uma oposição entre cultura superior e cultura inferior. O que, também, parece ser verdade é que a”nossa” cultura só sobreviverá como referência de uma comunidade, se for recriada com base no respeito pelo passado. Daí que a memória colectiva, sobretudo, das pessoas e grupos que vivem em situações de maior isolamento, como é o caso dos idosos vivendo nos sítios menos acessíveis deste Algarve, deva ser preservada, para que o avanço dos tempos não apague a história e possamos todos e todas, sempre aprender com o esse ”passado”. Resgatar essas memórias, essa cultura e apresentá-la e valorizá-la, deveria ser uma das tarefas da educação de adultos, resgatar esse saber, essas experiências de vida, para que se conheça melhor a “nossa” cultura. Mas, para conhecer melhor as gentes deste Algarve, para melhor se compreender a sua maneira de ser e estar, as suas artes e ofícios, há que desenvolver processo de dinamização sociocultural que concorram com a acção dos media, mais empenhados em divulgar e quase impor, um outro tipo de cultura que reflecte uma ideologia associada ao poder económico e político
No Algarve, não há muitos anos, a ausência de desenvolvimento nas zonas mais do interior, podia ser avaliada, entre outros indicadores, pela ausência de infra-estruturas básicas, como por exemplo a água canalizada, electricidade, esgotos, centro de saúde, bombeiros. Hoje, felizmente, a maioria das vilas e aldeias dispõe desse tipo de equipamento. Porém, o que pensar do facto de não haver em muitos locais desta região algarvia, sobretudo, na serra, uma biblioteca, de não haver lugar ao teatro, à música, ao cinema, à dança, a actividades recreativas e culturais, de não haver projectos de educação de adultos, de acções direccionadas para pessoas idosas? Este facto, talvez ilustre os limites do conceito de desenvolvimento ainda dominante em muitos sítios deste Algarve. A questão é que os problemas do interior, a desertificação do mundo rural, o envelhecimento populacional, o isolamento social e cultural, as assimetrias de desenvolvimento, estão em total oposição ao modelo de desenvolvimento das cidades assentes na competição e no lucro. Nesta região, há, ainda, baixos níveis educativos e culturais, sobretudo, ao nível da população mais idosa, sendo que esse défice é, naturalmente, mais acentuado nas regiões do interior, o que justificaria que fosse feito um maior esforço, em termos de oferta educativa e cultural.
A acção educativa e cultural pode ter um importante papel no processo de desenvolvimento destas zonas mais deprimidas, sobretudo, quando essas zonas constituem autênticos reservatórios de cultura. É no sentido de poder aproveitar esse capital cultural que a educação de adultos poderia ter uma importância estratégica, nomeadamente, através da animação sociocultural, no reforço do potencial educativo das comunidades e na criação de uma cultura de desenvolvimento. No âmbito da educação de adultos a animação sociocultural pode ser perspectivada como um processo que permitiria ajudar à mudança, no sentido de transformar a passividade, a resignação e o fatalismo em participação, autonomia e emancipação, no sentido do desenvolvimento pessoal e comunitário.


2009-11-13

António Aleixo

António Aleixo nasceu em Vila Real de Stº António a 18 de Fevereiro de 1899 e faleceu em Loulé a 16 de Novembro de 1949.
Na próxima 2ª feira faz 60 anos que o Algarve perdeu um dos seus poetas mais emblemáticos


Na próxima aula vamos falar da vida e obra deste poeta popular e reflectir sobre a temática da poesia popular no âmbito da educação de adultos

2009-11-11

Relatório da aula do dia 20 de Outubro

Na aula passada falámos essencialmente sobre a Educação Escolar e como se deu origem à Educação de Adultos. Referiu-se, por exemplo, que todos os autores da Escola Nova influenciaram o pensamento e consequentemente os estudos de Paulo Freire e que a educação tem sempre uma determinada finalidade. Para além disso, falou-se sobre a escolarização e que esta se desenvolveu ao longo dos séculos – pelo menos nos países mais desenvolvidos – e que a educação esteve sempre ligada à ideia de preparação para a vida sendo que o tipo de escola estava sempre ligado ao tipo de homem que se pretendia criar/formar. A revolução industrial foi importante factor para o aumento da escolarização, pois no trabalho fabril era necessário ter um mínimo de habilitações.
Após a II Guerra Mundial e com o avanço da Ciência, as escolas de preparação profissional ganharam importância, o que fez com que surgisse uma rivalidade entre os alunos que frequentavam este tipo de escola e os que frequentavam o liceu (mesmo entre os professores existiu esta rivalidade). Nesta altura, procurou-se muito o ensino/escolas técnicas pois assim podia-se entrar logo no mundo do trabalho. Porém, com a Reforma Educativa de 1948, assistiu-se a um decréscimo quanto à procura do ensino técnico profissional que, por sua vez, visava dotar o aluno de uma formação geral adequada.
Segundo António Mattoso “(…) A escola passiva foi substituída pela escola activa; à quantidade sucedeu a qualidade; a escola onde se aprende desapareceu de vez para dar lugar à escola onde se trabalha. A escola dogmática, formalista, livresca, materialista, na qual o aluno é um ser passivo, o mestre senhor omnipotente da vontade escolar, não existe hoje em Portugal nos novos cursos preparatórios do Ensino Técnico Profissional (…)”.
Depois o docente perguntou: será que a educação escolar prepara para a vida? Falou-se então, a propósito desta questão, da década de 60, ou melhor dizendo, no Maio de 68 onde os alunos universitários se revoltaram inicialmente nos E.U.A. para de seguida se alastrar pela Europa toda. Contestaram que se gastava imenso dinheiro na guerra mas pouco se investia nas escolas/universidades, pois nestas perdeu-se o contacto com a vida e com a cultura. A escola estava mais orientada para a profissionalização do que para a cultura.
A partir da década de 60 alguns autores defendiam então a desescolarização (Ivan Illich).
O docente ainda fez algumas questões para as debater na aula. Já quase no final desta, vieram duas colegas licenciadas em Educação Social para falarem do Núcleo Paulo Freire da nossa Universidade (o que faz; o que pode fazer com a nossa ajuda e o que nós queremos que este Núcleo faça).
Isabelle Fundinger

2009-11-08

Evolução do conceito de E.A.

Parte V

49- Em 1999 foi criada a Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos (ANEFA) surgindo, pela primeira vez, em Portugal um Instituto Público, “com autonomia científica, técnica e administrativa” (artigo 1.º), com responsabilidades na área da educação e formação de adultos. Apesar de contribuir para a valorização de um sector que se encontrava escolarizado, disperso e marginalizado do sistema educativo e da política educativa, pelo menos entre 1985 e 1995, a ANEFA não corresponde às expectativas nem às propostas apresentadas pelo Grupo de Trabalho, face às limitações observadas ao nível da política global e coerente para a educação e formação de adultos, bem como a não contemplação de áreas de intervenção, designadamente a educação para o trabalho e para a cidadania, a animação socioeducativa e o desenvolvimento comunitário.
50-Das realizações empreendidas pela ANEFA há a destacar a implementação de um Sistema Nacional de Reconhecimento e Validação e Certificação de Competências e a construção gradual de uma Rede Nacional de Centros RVCC.
51-A estruturação destes Centros é concretizada pelo Referencial de Competências-Chave de Educação e Formação de Adultos, organizado em três níveis Básico 1, Básico 2, Básico 3 e abrange quatro áreas de competências-chave: linguagem e comunicação, matemática para a vida, tecnologias da informação e comunicação e cidadania e empregabilidade.
52-Outra acção da ANEFA é a criação dos cursos de educação e formação de adultos (cursos EFA), no sentido de proporcionar uma oferta integrada de educação e formação destinada a públicos pouco qualificados; contribuir para a redução do défice de qualificação escolar e profissional da população portuguesa, potenciando as suas condições de empregabilidade; promover a construção de uma rede local de EFA.
53-Os cursos EFA dirigiam-se a adultos com idade superior ou igual a 18 anos, sem escolaridade básica, sem qualificação profissional e preferencialmente desempregados, sendo possível estes cursos serem promovidos por diferentes entidades, associações, autarquias ou empresas, desde que acreditadas pelo Instituto para a Inovação da Formação.
54- No âmbito da ANEFA, também foram desenvolvidas as Acções S@ber+, que eram constituídas por módulos de 50 horas, abrangendo vários domínios e qualquer público, assim como o lançamento de publicações periódicas e materiais de divulgação como, por exemplo, a Revista para o Desenvolvimento da Educação e Formação de Adultos.
55-Estas acções da ANEFA são dirigidas a adultos em idade activa, sendo os outros adultos, fora da vida activa, excluídos da educação e formação de adultos, contrariando-se as Recomendações Internacionais (Conferência de Hamburgo, realizada em 1997)
56- Diferentes agências internacionais, como a UNESCO e as Nações Unidas, têm chamado a atenção para a discriminação que os idosos, entre outros grupos, têm sido alvo em matéria educativa. Considerar o direito dos idosos à educação implica uma concepção de educação permanente, como foi defendida no Relatório Faure, bem como um conceito de educação de adultos abrangente e global. Este conceito ideal de educação permanente, de educação ao longo da vida, tem vindo a ser alterado e tem surgido no seu lugar uma ênfase na aprendizagem ao longo da vida, conceito veiculado por agências internacionais como a Comunidade Europeia, traduzindo uma valorização do vector educação-mercado de trabalho, em vez de educação-democracia-cidadania.
57-Esta ênfase na Aprendizagem também implicou uma alteração no papel do Estado, deixando de ser o principal fornecedor e responsável em matéria de políticas sociais, mas passando a incentivar o envolvimento da sociedade civil na promoção de diferentes serviços, outrora da responsabilidade estatal. Neste cenário, valoriza-se mais a preparação para o mercado de trabalho junto da população activa, excluindo-se os idosos e os reformados do direito à educação permanente. Do direito à educação passou-se
ao direito do cliente.
58-Em 2002, a ANEFA foi extinta, tendo sido transferidas as suas funções para a Direcção Geral de Formação Vocacional. A DGFV é um serviço central integrado no Ministério da Educação capaz de actuar transversalmente na concretização dos objectivos de qualificação, ao longo da vida, dos jovens e adultos.
59- Em 2006 é criada a Agência Nacional para a Qualificação, organismo de tutela ministerial conjunta entre os Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Educação. É missão da ANQ, coordenar a execução das políticas de educação e formação profissional de jovens e adultos e assegurar o desenvolvimento e a gestão do sistema de reconhecimento, validação e certificação de competências. Os Centros RVCCC passam a denominar-se Centros Novas Oportunidades
60- A Iniciativa Novas Oportunidades propõe metas ambiciosas no domínio da certificação escolar e profissional da população e exige a mobilização alargada dos instrumentos, políticas e sistemas de qualificação. A articulação institucional entre os ministérios com responsabilidade na educação e formação profissional e a participação dos parceiros sociais e das organizações da sociedade civil constituem condições fundamentais de afirmação desta estratégia. Cabe à ANQ promover a sua concretização, pautando a sua acção por um trabalho sustentado e articulado com as entidades certificadoras e com as entidades que asseguram a acreditação e a formação no âmbito das redes de organizações públicas e privadas, nomeadamente, as Direcções Regionais de Educação (DRE), a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).
61- A ausência de uma política global e coerente de Educação de Adultos em Portugal tem conduzido à marginalização deste subsistema educativo.

Um brevíssimo olhar sobre a rede pública de E.A no Algarve

1-Introdução
Um breve olhar sobre o que tem sido a Educação de Adultos no Algarve, nestas últimas décadas, permite verificar que a diversidade de âmbitos associados ao conceito de educação de adultos, numa óptica de articulação entre o formal e o não formal, o escolar e o extraescolar, entre uma educação dinâmica, activa e participativa e o desenvolvimento socioeconómico, social e cultural, não foram suficientemente adquiridos. Contudo, apesar de ao longo destas décadas terem existido alguns exemplos de boas práticas de educação de adultos feitas com as pessoas de uma forma activa e participada, em termos globais, os resultados ficaram muito aquém das expectativas criadas no início dos anos oitenta.
Tomando por referência a definição de Educação de Adultos formulada em 1976 na Unesco como,” conjunto de processos organizados de educação, qualquer que seja o seu conteúdo, nível e método, quer sejam formais ou não formais, quer prolonguem ou substituam a educação inicial dispensada nos estabelecimentos escolares e universitários e sob a forma de aprendizagem profissional, graças aos quais as pessoas consideradas como adultas pela sociedade de que fazem parte desenvolvem as suas aptidões, enriquecem os seus conhecimentos, melhoram as suas qualificações técnicas ou profissionais ou lhes dão uma nova orientação, e fazem evoluir as suas atitudes ou o seu comportamento na dupla perspectiva de uma plena realização pessoal e da participação num desenvolvimento socioeconómico e cultural equilibrado e independente”,então, muitos dos aspectos anteriormente enunciados tem estado, na sua maioria, omissos ou deficientemente ensaiados. Na verdade, o papel da Educação de Adultos como espaço privilegiado do Desenvolvimento não tem sido bem entendido por quem tem responsabilidades neste processo, que devia orientar-se por princípios operativos criadores de espaços de aprendizagem, comunicação interpessoal, organização, progresso, formação de consciência crítica, capaz de levar as pessoas a participar na mudança da realidade social, numa óptica de desenvolvimento endógeno, global e integrado.
Falar de Educação de Adultos equivale a distinguir dois grandes domínios, um relacionado com a alfabetização, o ensino recorrente e extra-escolar que no Algarve tem sido da quase total responsabilidade da rede pública de Educação de Adultos e, um outro domínio, o da intervenção socioeducativa, desenvolvida pela sociedade civil através de Associações e outras Organizações que animadas por um impulso de fazer e servir realizam iniciativas de participação social.
A história da rede pública de Educação de Adultos no Algarve tem sido caracterizada por sucessivas mudanças decorrentes de diferentes intenções políticas correspondendo a diferentes orientações programáticas sobre o contributo da Educação de Adultos para o Desenvolvimento.

2- A Educação de Adultos na década de oitenta

No Algarve, a década de oitenta, início da implementação da rede pública de educação de adultos, foi marcada por boas práticas de educação de adultos, quer no âmbito da alfabetização quer das modalidades extra-escolares. Neste período a implementação das acções de educação de adultos eram concebidas, na maioria das vezes, em função das necessidades expressas pelas gentes locais, com o objectivo de intervir junto dos grupos mais desfavorecidos socialmente, economicamente e culturalmente, numa perspectiva de educação para o desenvolvimento, rejeitando práticas tradicionais sem negar o papel das soluções educativas formais.
Um exemplo demonstrativo de boas práticas em educação de adultos é o caso do ex-Projecto Integrado de Desenvolvimento Regional do Nordeste Algarvio, um Projecto com grandes linhas orientadores, apoiado financeiramente, assumido pelas Instituições com responsabilidades no desenvolvimento local. Este Projecto foi desenhado no sentido de perspectivar o desenvolvimento de uma zona desfavorecida através da identificação de problemas e necessidades locais em que se procurava privilegiar os recursos endógenos, na implementação de um leque de projectos de animação e desenvolvimento comunitário. Ao preconizar o desenvolvimento local como um processo global que reconhecia as múltiplas vertentes a contemplar, o Projecto Integrado comprometia a intervenção de diferentes instituições, grupos e pessoas com diferentes sensibilidades mas com finalidades idênticas.
Com as novas dinâmicas mudou-se o entendimento sobre a forma de intervir em educação de adultos que passou por orientações estratégicas e metodológicas que procuraram elevar o nível sócio-educativo das populações locais, através de programas integrados em que interagissem diferentes pessoas de diferentes instituições localizadas no Nordeste algarvio e com responsabilidades no desenvolvimento local. Por “simpatia”, muitas das boas experiências desenvolvidas no âmbito do Projecto Integrado, depois de devidamente contextualizadas face às realidades locais, eram reproduzidas noutras zonas do Algarve, onde existissem problemas semelhantes e as Instituições estivessem sensibilizadas para trabalhar com a rede pública de Educação de Adultos, Direcção Regional de Extensão Educativa do Algarve, através das Coordenações Concelhias.
A Educação de Adultos, integrada numa equipa pluridisciplinar programou, em articulação com outras instituições, um conjunto de acções que visavam a melhoria progressiva das condições de vida das populações. Numa perspectiva de desenvolvimento regional, por forma a contribuir para a formação integral das populações, sua fixação às zonas de origem, aproveitamento dos recursos locais e diversificação das actividades económicas.
A acção da Educação de Adultos ao centrar-se em áreas fundamentais como a implementação de cursos de alfabetização e ciclo preparatório, animação sócio-cultural e dinamização sócio-educativa das comunidades, assentava no princípio de que a obtenção de mudanças significativas e duradouras dependiam, fundamentalmente, do envolvimento dos grupos de pessoas. Deste modo, o desenvolvimento local dependia da criação de contextos socioeducativos que levassem as pessoas a assumir o papel de co-autores e actores do próprio desenvolvimento através da participação em actividades conjuntas.
Face às exigências colocadas à Educação de Adultos no âmbito do PIDR, as acções a implementar não se limitavam, unicamente, aos cursos de alfabetização e actividades daí decorrentes, pois, os cursos sócio-profissionais surgiram em função das necessidades expressas localmente e com uma importância cada vez maior como factor económico de desenvolvimento global das pessoas. Estas actividades ao contribuírem para a preservação do património cultural das gentes da serra no que respeitava à reactivação de actividades profissionais em vias de extinção, constituíam, ainda, conjuntamente com as actividades de âmbito sócio-cultural, pólos dinamizadores dos cursos de alfabetização e aumento da credibilidade da Educação de Adultos.
Para tal, tornava-se determinante o tipo de estruturação interna das equipas concelhias, a dinâmica que imprimiam no terreno, os objectivos a atingir, os impactos previstos, as redes de relação estabelecidas, a especificidade das funções atribuídas a cada um dos elementos da equipa e, sobretudo, a vontade de inovar, de trabalhar com grupos sociais com maiores carências a nível social, económico, educativo e cultural, num clima de autenticidade e de respeito pela individualidade de pessoas e grupos.
As Coordenações Concelhias constituíam autênticos centros de recursos educativos, com uma rede de relações eficaz no seio da comunidade, disponíveis para realização de iniciativas de animação comunitária, utilizando todos os recursos institucionais disponíveis através de um bom relacionamento com os parceiros sociais locais. As equipas concelhias eram constituídas por dois tipos de agentes de educação de adultos: professores do 1º ciclo do Ensino Básico que exerceram, durante alguns anos, actividade docente com crianças dos 6 aos 10 anos de idade e que estavam destacados nas Coordenações Concelhias para desenvolver as actividades decorrentes do Programa de Educação de Adultos e os bolseiros, jovens com idades compreendidas entre os 20 e os 25 anos, indivíduos do meio ou dele muito próximo. Eram jovens com o 10º, 11º ou 12º ano, caracterizados pela vontade de trabalhar e contribuir para a melhoria das condições de vida, individual e colectiva das pessoas da sua aldeia ou monte próximo. Estes bolseiros faziam alfabetização. A formação para a alfabetização limitava-se a um curso introdutório de fim de semana que permitia funcionar com alguma eficácia desde que sujeitos a um processo de Formação e Acompanhamento Sistemático por parte das equipas concelhias e do Coordenador do Projecto. A cada uma destas equipas juntava-se um elemento da Coordenação Distrital que apoiava e supervisionava o trabalho das equipas através do Acompanhamento Sistemático. O acompanhamento sistemático era um elemento chave no processo de desenvolvimento das acções no terreno na medida em que o objectivo principal consistia em ajudar o agente de desenvolvimento local a desenvolver capacidades e competências que o levasse a explorar os conhecimentos de que dispunha para resolver os problemas com que se confrontava
Nos finais da década de oitenta começaram a sentir-se “ventos de mudança”, em termos de funcionalidade e autonomia, que consistiu na alteração das orientações institucionais, na atribuição de novas funções aos técnicos que faziam o acompanhamento sistemático das acções no terreno, na substituição das estratégias de supervisão por cenários de acompanhamento à distância com consequências evidentes na falta de coordenação, no isolamento a que foram sujeitos alguns dos agentes no terreno .

3. Década de 90

Este cenário de mudança é marcado pelo grande incremento de acções desenvolvidas no âmbito do PRODEP, que com o apoio do Fundo Social Europeu, destinavam-se a elevar os níveis educativos da população jovem e adulta, através de cursos de alfabetização e 2º ciclo do ensino básico e de cursos de formação socioprofissional. Com estes cursos do Prodep assistiu-se a um alargamento da escolarização, a uma burocratização dos Serviços relacionada com complexos processos administrativos, a marginalização das actividades extra-escolares com a ausência de acções de promoção cultural e cívica e de intervenção sócio-educativa junto de outros grupos da população não abrangidos por este Programa, uma vez que as Coordenações Concelhias estavam demasiado envolvidas com o Prodep.
A subordinação da Educação de Adultos ao sistema escolar, o progressivo desinvestimento em termos de recursos humanos e financeiros, e as mudanças estruturais operadas tiveram no Algarve efeitos desastrosos para a educação de adultos. É assim que, no ano de 1993 a Direcção Geral de Extensão Educativa é extinta, e fica traçado o “destino” da rede pública de Educação de Adultos no Algarve. Com a criação do Departamento de Ensino Recorrente e Extra-Escolar, a Educação de Adultos subordina-se ao sistema escolar como via alternativa para responder, em termos de segunda oportunidade, aos jovens que o sistema escolar rejeitou. Com efeito, um jovem que abandone o sistema formal deve ser recuperado, numa segunda oportunidade, podendo corresponder melhor num programa de estudos concebidos num contexto não formal. Este um dos papéis que devem ser acometidos ao Ensino Recorrente e Extra-Escolar, pois, numa região com os problemas de desenvolvimento observados nalgumas zonas, é da mais elementar justeza que se dê particular atenção a pessoas que poderão ser económica, social e culturalmente activas por mais 40 ou 50 anos. Infelizmente o conceito de Educação Recorrente tem sido entendido, quase exclusivamente, como educação de segunda oportunidade, incapaz de perspectivar a distinção operada por Paulo Freire entre educação libertadora em oposição ao que denominou de creditação bancária.
Ao limitar e reduzir-se a acção da Educação de Adultos quase exclusivamente ao sistema escolar, ao retirar autonomia e limitar os recursos financeiros das “Coordenações Distritais” negando-lhe um papel estratégico no desenvolvimento comunitário ao nível da intervenção socioeducativa, da formação cultural e cívica, do trabalho integrado com outras Instituições, começa a esvaziar-se por completo todo o sentido que assume o conceito de Educação de Adultos tal como foi definido em 1976, em Nairobi no Congresso da Unesco. É que, não obstante os discursos dos políticos apontarem para a necessidade de se valorizar a dimensão educativa da Educação de Adultos no sentido de se privilegiarem intervenções socioeducativas endógenas e integradas que tenham em conta as culturas e dinâmicas locais, na prática, o que se observou foi a contradição entre discurso e acção, que culminou com um estado de indefinição e um conjunto de mudanças operadas por decreto que tornaram claro que este subsistema educativo deixara de ser considerado uma prioridade política, face à perda progressiva de identidade e ao estatuto de marginalidade a que não é alheio o reduzido peso político-administrativo conferido pelo Estado.

4- Que futuro para a Educação de Adultos no Algarve?

O Algarve, com uma área aproximada de 5000 Km2, constitui, com os seus dezasseis concelhos e setenta e oito freguesias, uma região naturalmente bem definida. As condicionantes naturais subdividem esta região em três zonas – serra, barrocal e litoral – de diferentes aptidões ecológicas que, obviamente, condicionam a distribuição da população e as suas vivências sociais, económicas e culturais. Ao litoral em crescimento acelerado, em perda contínua de identidade cultural, que corresponde a cerca de 1/5 da região, opõe-se um barrocal e uma zona serrana onde as gentes, contrariamente ao que acontece no litoral, continuam a resistir a certos fenómenos de aculturação.
Segundo dados do INE, a um crescimento da população de aproximadamente 7% nestas últimas duas décadas, o Algarve constitui uma das regiões do País com maior dinâmica demográfica. A este facto está associado o forte desenvolvimento da actividade turística no litoral algarvio. A uma população presente de cerca de 424.000 pessoas (censos de 2001) corresponde uma taxa de actividade de cerca de 45% e uma taxa de desemprego de 9%,(valores aproximados). Relativamente ao número de desempregados, cerca de 15 mil pessoas, 12% correspondem a jovens à procura do 1º emprego, enquanto os restantes 88% correspondem a pessoas à procura de novo emprego. Relativamente às mulheres as taxas de actividade, apesar do seu contínuo crescimento, têm-se mantido inferiores às dos homens e as taxas de desemprego foram mais elevadas, sobretudo nas mulheres entre os 15 e os 24 anos. A maior parte das mulheres exerceram a actividade principal na Agricultura. Em 1997, a maior proporção de mulheres que trabalhava situou-se nos dois escalões salariais mais baixos.
No que diz respeito à taxa de analfabetismo no Algarve, verificava-se o valor médio de 14,5% em 1991, contra um valor de 28% em 1981. Este decréscimo resultou, na sua maior parte, das acções de alfabetização levadas a efeito pela então denominada Direcção Geral de Extensão Educativa. A estes valores médios observados corresponde uma distribuição intra-regional bastante assimétrica e penalizadora das áreas mais desfavorecidas, com destaque para os concelhos da Serra, nomeadamente, Alcoutim (33,9%), Monchique (27,1%) e Aljezur (27,4% ) (último censo de 1991).
Segundo os censos de 91, cerca de 60% dos indivíduos analfabetos eram mulheres. Se nas idades mais jovens a proporção da população que não sabia ler nem escrever era quase idêntica entre homens e mulheres, quando se avançava para grupos etários mais elevados, sobretudo a partir dos 40 anos, a relação ia progressivamente aumentando no número de mulheres analfabetas. Em 1992, a percentagem de mulheres sem qualquer grau de instrução (61,9%), subiu para 63% contra 36,2% dos homens em 1997. Esta subida resultou do aumento do número de efectivos femininos com idades mais avançadas.
Não obstante o lançamento de tantos cursos de alfabetização e da maioria dos jovens serem hoje alfabetizados, graças à frequência escolar, a taxa de analfabetismo no Algarve é ainda elevada, porque, ainda, existem jovens que percorrem o sistema escolar sem se tornarem, efectivamente, alfabetizados, e há pessoas adultas, sobretudo as mais velhas vivendo em situação de semi-isolamento que não aderem aos cursos de alfabetização.
Neste início de milénio, no Algarve, o mapa do analfabetismo cobre praticamente as mesmas áreas que os mapas de pobreza, de desemprego, de isolamento das pessoas mais idosas, de falta de condições de qualidade de vida. O caso típico do analfabeto é aquele que não sabe ler nem escrever e que apresenta piores condições de vida. Nestas circunstâncias será o analfabetismo, por si só, verdadeiramente, o principal problema destas pessoas? Será que em primeiro lugar, não está a satisfação das necessidades mais básicas, conforme Maslow descreveu na hierarquia das necessidades humanas, em que as necessidades associadas à sobrevivência são determinantes para o desenvolvimento das capacidades intelectuais. Para o autor, na base da sua pirâmide encontram-se as necessidades fisiológicas e de segurança que condicionam a sobrevivência física das pessoas, depois seguem-se as necessidades sociais e de autoestima que consolidam as relações de confiança e de pertença e, por fim, no topo da pirâmide estão as necessidades de autorealização e de satisfação pessoal.
A alfabetização parece ter maior êxito junto da pessoas e tornar-se educação para a liberdade se estiver associada a projectos de desenvolvimento económicos e/ou sociais. Deste modo pode constituir um factor de desenvolvimento das comunidades locais, não só pelos objectivos que prossegue no sentido de facultar a aquisição de conhecimentos básicos, de despertar a consciência crítica, de combater a inércia e o conformismo mas, também, pela pedagogia específica que pratica. A pedagogia da formação de adultos é, deve ser, activa, o que implica uma selecção e construção adequada dos materiais, a adopção de métodos e estratégias adequadas ao grupo de adultos educandos, o recurso a fontes comunitárias de aprendizagem, o estudo de problemas da vida real, que permitam à pessoa adulta criar comportamentos e atitudes de aprendizagem ao longo da vida.
Neste processo, o agente de educação de adultos desempenha um papel determinante no sentido de ser capaz de relacionar-se correctamente com os educandos, de aproveitar os seus conhecimentos e experiências e de os despertar para a consciencialização em torno de necessidades básicas tornadas não conscientes pelos valores e normas dominantes na sociedade. A questão fundamental reside no papel assumido pelo agente de alfabetização, um professor do 1º ciclo do ensino básico, em acumulação, que após um dia de trabalho com crianças dos 6 aos 10 anos de idade vai alfabetizar pessoas adultas. Sem negar as suas competências no ensino da leitura e da escrita, o que parece mais questionável é se estes profissionais do ensino básico terão formação e preparação para trabalhar com adultos e, principalmente, se terão ideias claras acerca do real significado do que é fazer alfabetização? Quando trabalham com minorias étnicas ou grupos sociais desfavorecidos terão consciência de que a aprendizagem da leitura e da escrita não implica apenas a aquisição de um saber fazer técnico, neutro, mas apela a valores e conceitos culturais fundamentais?
Um outro aspecto muito importante para a qualidade pedagógica das acções de alfabetização que, por vezes, não é levado tão a sério como deveria ser, é a produção de materiais didácticos. Os adultos educandos trabalham durante o dia e apenas podem estudar à noite ou nos raros momentos de lazer. Por outro lado, o dinheiro também não é muito para comprar livros ou revistas para os ajudar a aprender a ler. Daí que os materiais a utilizar nas sessões de alfabetização deverão ser adequados às necessidades de aprendizagem dos educandos, em termos de conteúdos e atraentes no sentido de ajudar à progressão na aprendizagem. Estes materiais devem ter em conta os problemas reais e imediatos dos adultos educandos e o meio em que vivem. As pessoas só aprenderão a ler e a escrever se virem utilidade em tal, pelo que os materiais a utilizar devem permitir ainda a aquisição de conhecimentos necessários para melhorar a sua qualidade de vida. Apresentados numa linguagem simples e directa, os materiais devem incluir assuntos que respondam ao grau de maturidade dos educandos.
Daí que seja absolutamente proibitivo tratar os adultos como se de crianças se tratassem, de utilizar de forma inconsciente nas sessões com adultos os materiais utilizados nas aulas com as crianças do 1º ciclo, do tipo “ o piu...piu pia”. São estas utilizações indevidas de material didáctico que ao revelarem falta de sensibilidade, falta de formação para trabalhar com pessoas adultas, desrespeito, falta de ética profissional, descredibilizam a educação de adultos.
Para a mudança das condições de vida das pessoas adultas que apresentam maiores carências a nível económico, social e cultural, impõe-se uma intervenção educativa que promova o desenvolvimento pessoal e profissional, que estimule a co-responsabilização social e favoreça a criação de espaços de solidariedade, pois, de nada serve aprender a ler, a escrever ou contar se os conhecimentos fundamentais adquiridos não encontram num determinado meio, uma aplicação quotidiana, concreta, imediata e benéfica.
Face ao exposto, o Ensino Recorrente e a Educação Extra-Escolar deve ser capaz de superar a distância entre escolarização e vida activa, pela relação que a educação deve ter com a vida real das pessoas adultas, numa perspectiva de desenvolvimento global da vida das pessoas e das comunidades onde inscrevem as suas actividades sociais e profissionais. Segundo Melo (1996) a construção de uma sociedade educativa faz-se sobretudo a “toda a largura da sociedade”, no quadro de uma política social, económica e cultural e de desenvolvimento integrado e endógeno com a participação das diferentes Instituições, nos mais variados espaços, através de projectos de intervenção comunitária que envolvam as pessoas na plenitude das suas funções de cidadãos. Daí a importância de sensibilizar os decisores políticos, económicos e sociais, pois, cada vez é mais visível que a ausência de comprometimento por parte destes agentes sociais tem sido a principal causa do fracasso dos programas de desenvolvimento da educação de adultos. Não será tempo de ensaiar novas experiências dando oportunidade a gente com outra formação e preparação para lidar com gente adulta? Porquê tanta relutância em legislar para que as Coordenações Concelhias sejam constituídas por equipas multidisciplinares que integrem profissionais de outros sectores?
E a alfabetização? Até quando continuará ser administrada por professores do 1º ciclo do ensino básico, em regime de acumulação quando, como refere Benavente et al (1979), não revelam nenhuma competência especial para a educação de adultos, são muito marcados pela sua actividade com as crianças, o que tem aspectos negativos como uma supervalorização do saber ler e escrever e uma incompreensão do que é educação de adultos.
Se as políticas educativas não mudarem o rumo das suas estratégias de educação de adultos, marcadas pela ausência de processos específicos e pela ausência de investigação e inovação de métodos que lhes permita responder às necessidades das pessoas adultas, então de pouco servirão os investimentos e esforços gastos neste subsistema educativo.
Neste momento, no Algarve, observam-se formas diversificadas de crise no tecido social, com situações preocupantes de desemprego, baixo nível de qualificação de recursos humanos, evolução da população residente com mais de cinquenta anos, exclusão económica, social e cultural, a que os esquemas tradicionais de solidariedade e previdência social não conseguem dar resposta. O contínuo fluxo de migrantes económicos e “refugiados” dos países de leste vieram marcar o início de profundas alterações na vida algarvia. O Algarve de hoje subitamente heterogéneo em alto grau, caracteriza-se por uma grande diversidade cultural acentuada pelas minorias, emigrantes, “refugiados” e movimentos de população que acorrem ao Algarve na procura de melhores condições de vida.
Seguramente que este é mais um motivo para que a educação de adultos no Algarve constitua uma prioridade. Sobretudo num momento em que se reconhece a necessidade de aprendermos a viver todos juntos e aprendermos uns com os outros. Se para os “algarvios” a tolerância e a cooperação intercultural activa deve fazer parte do nosso dia a dia, os grupos minoritários que escolheram o Algarve para viver têm o direito de aprender. A educação e a formação são uma obrigação social e um bem público que se prende com o processo de desenvolvimento comunitário. Esta Aprendizagem, que não se confina à educação formal, será fundamental para uma maior coesão social, para consolidar valores fundamentais de ordem pessoal e social, para responder a problemas de exclusão e para dar resposta a exigências dos processos económicos. A educação é uma solução para dar resposta a mudanças rápidas ocorridas na sociedade em geral e no mundo do trabalho em particular. Daí a importância da Educação de Adultos...

“Se fizer um projecto para um ano, lance uma semente.
Se for para dez anos, plante uma árvore.
Se for para cem anos, ensine o povo.
Quando semear um grão uma vez, recolherá uma única colheita.
Quando ensinar o povo, recolherá cem colheitas”
Kuan Chang

Daí que o novo milénio exija uma melhor educação de adultos que reduza desigualdades e injustiças sociais. Mas, para mudar a “face” da rede pública de educação de adultos, não se podem esperar milagres. As mudanças são lentas e implicam investimentos de vária ordem, no âmbito da investigação, da formação, da preparação científica para trabalhar com pessoas adultas, do acompanhamento sistemático dos agentes de educação de adultos.
Parece que não é só uma questão de esforço técnico-administrativo, nem sequer parece depender unicamente de medidas de políticas educativas, mas também, do papel das Instituições, do sentido profissional das pessoas envolvidas e a envolver, das questões ideológicas, do assumir de compromissos e, sobretudo, da qualidade, da formação e da vocação dos agentes de educação de adultos.

2009-11-04

Evolução do conceito de educação de adultos

Parte IV

34- Em relação ao período (1985-1995), a Direcção Geral de Educação de Adultos é substituída em 1987 pela Direcção Geral de Apoio e Extensão Educativa, ficando à sua responsabilidade a coordenação, promoção e apoio de tarefas tão dispersas como o ensino particular e cooperativo, o ensino básico e secundário de português no estrangeiro, a educação não formal e as actividades de âmbito cultural no domínio da educação permanente, no país e junto das comunidades portuguesas no estrangeiro.
35-Em 1988, a DGEA passa a designar-se Direcção Geral de Extensão Educativa sendo a última representação directa da educação de adultos, passando a ser o Departamento do Ensino Básico e o Departamento do Ensino Secundário os responsáveis pelo ensino recorrente do respectivo nível de ensino.
36- Ao longo das décadas de 80 e 90, não só as diferentes propostas de criação de um Instituto Nacional de Educação de Adultos não foram concretizadas como o subsistema de E.A. foi sendo progressivamente reduzido no seu campo de intervenção, na sua visibilidade em termos de uma estrutura da administração central e de importância política.
37- Em 1990 na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em Jomtien (Tailândia), defendeu-se que a alfabetização de jovens e adultos seria uma primeira etapa da educação básica, consagrando-se, ainda, a ideia de que a alfabetização não deveria ser separada da pós-alfabetização.
38-De acordo com o entendimento da UNESCO, a alfabetização é um direito humano fundamental, necessidade básica de aprendizagem e chave para aprender a aprender, porque a alfabetização universal - de crianças e adultos - continua sendo um grande desafio quantitativo e qualitativo para os países em desenvolvimento e para os países desenvolvidos, porque a alfabetização é um direito humano fundamental, uma necessidade básica de aprendizagem e chave para aprender a aprender, porque a alfabetização favorece a identidade cultural, a participação democrática e a cidadania, a tolerância e o respeito pelos demais, o desenvolvimento social, a paz e o progresso.
39- Em 1997, em Hamburgo realizou-se a Conferência de Educação de Adultos onde se reafirmou que só o desenvolvimento humano e uma sociedade participativa fundada no total respeito pelos direitos humanos, conduziriam a um desenvolvimento sustentável e equitativo.
40-As orientações das Nações Unidas apontam no sentido de se ter em conta outras recomendações e iniciativas internacionais, das quais se salienta a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, aprovada em 1990, em Jomtien, e reafirmada no Fórum Mundial sobre Educação para Todos celebrado em Dacar, em 2000 e a década das Nações Unidas da Educação para a Alfabetização (2003-2012).
41- As Nações Unidas declararam o decénio 2005-2014 como a década da educação para o Desenvolvimento Sustentável, tendo atribuído à UNESCO a responsabilidade de delinear o respectivo programa de acção, que cada país deveria adaptar às próprias necessidades. A intenção é contribuir para um futuro que compatibilize as necessidades humanas com o uso sustentável dos recursos, superando assim os efeitos perversos que vão desde a destruição ambiental até à manutenção/agravamento da pobreza.
42-Em Portugal, a partir de 1995, com a chegada do Partido Socialista ao Governo, a área da E.A. passa a fazer parte de um dos seus objectivos de intervenção. Um dos sinais dessa vontade política de mudar a E.A. em Portugal é reflectido na iniciativa de se criar um Grupo de Trabalho com o objectivo de se diagnosticar a situação da E.A. em Portugal e propor caminhos para o desenvolvimento desta área.
43-No relatório intitulado Uma aposta educativa na participação de todos (Melo et al., 1998), apresentado no final de 1997, o Grupo de Trabalho expôs o documento estratégico solicitado pelo M. E. contendo as seguintes propostas:
- criação de uma oferta pública de Educação de adultos, da qual seja retirada o ensino recorrente para jovens entre os 15 e os 18 anos, integrando esta oferta num sistema autónomo e descentralizado, pressupondo a existência de Unidades Locais de educação de adultos;
- lançamento de um programa de desenvolvimento da E.A. gerido por um organismo a ser criado;
- constituição de um “esquema nacional de balanço de competências pessoais e de validação dos adquiridos profissionais ou de aprendizagem”;
- criação de um estabelecimento de ensino dirigido unicamente para a aprendizagem de adultos organizado em dispositivos de ensino a distância e de um serviço central “de Credenciação e Registo das entidades intervenientes em educação de adultos,
- formação dos formadores de E.A.;
- promoção de estudos, pesquisas e publicações sobre este campo, assim como a promoção da própria E.A. através de uma intensa campanha publicitária incentivando e alertando para a importância da educação de cada adulto.
- criação de uma estrutura organizativa da E.A. amplamente participada mas de âmbito exclusivo deste campo, a qual designaram por “Agência Nacional de E.A.”,
- promover directa ou indirectamente a educação nas suas diferentes vertentes como técnica, científica, cívica e artística, numa perspectiva de educação e formação ao longo da vida;

Mapa conceptual

Para construir um mapa conceptual devem-se identificar os conceitos-chave, necessários para entender o significado da temática a apresentar.
Os conceitos-chave devem, seguidamente, ser ordenados hierarquicamente, do mais geral para o mais específico.
Comecem com o conceito mais amplo colocando-o no cimo do mapa e, num nível seguinte vão inscrevendo os outros conceitos.
Liguem os conceitos com palavras de acção.

A recensão crítica

Uma recensão é um trabalho de apresentação de uma obra literária, concentrando-se no seu conteúdo e no contexto em que a obra surge a público. Uma recensão crítica de um texto literário não pode perder de vista a origem do acto crítico (crítica vem do grego krínein, que significa isolar, separar, destacar o particular), mas deve distanciar-se do registo meramente subjectivo de uma opinião arbitrária sobre o texto lido. A recensão literária é também um texto de carácter científico, cujo rigor deve ser procurado na defesa de todos os argumentos de leitura. Ao nível do conteúdo, a recensão crítica deve incluir uma explicitação objectiva do assunto, apresentar uma posição crítica da v/ parte, concretamente, as vossas opiniões relativamente a aspectos em que concordem ou discordem das ideias defendidas pelo autor do livro e, finalmente, deve indicar, de acordo com a vossa opinião, qual o contributo da obra para o conhecimento, tendo em vista a unidade curricular de educação de adultos.
Esta recensão crítica deve obedecer às seguintes regras:
1. Não deve exceder as 3000 palavras,
2. Não deve conter notas de rodapé.
3. No início do texto deve indicar:
- O título do livro
- O autor
- A editora
- A cidade de edição
- O ano de edição.
(caso se trate de uma tradução é necessário também incluir o nome do tradutor)

2009-11-03

Evolução do conceito de educação de adultos

Parte III

26- A Conferência Geral da UNESCO, na sua 19.ª sessão em Nairobi (1976) refere que:
“Cada Estado membro deverá: a) reconhecer que a educação de adultos é um elemento constitutivo permanente da sua política de desenvolvimento social, cultural e económico; deverá, por conseguinte, promover a criação de estruturas, a elaboração e a execução de programas e a aplicação de métodos educativos que respondam às necessidades e aspirações de todas as categorias de adultos, sem restrições de sexo, raça, origem geográfica, idade, condição social, opinião, crenças ou nível de educação prévia (…) “ (UNESCO, 1976, p. 4).

27-Na sequência de legislação publicada em 1979, realizam-se os trabalhos preparatórios do Plano Nacional de Alfabetização e Educação de Base de Adultos (PNAEBA), com o objectivo primordial da eliminação do analfabetismo, documento de referência obrigatória, no âmbito da educação de adultos, em Portugal.
noite

28- Em 1985 foi realizada a IV Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, na cidade de Paris, que se caracterizou pela pluralidade de conceitos. Foram discutidos temas como a alfabetização de adultos, pós-alfabetização, educação rural, educação familiar, educação da mulher, educação em saúde e nutrição, educação cooperativa, educação vocacional, educação técnica. Dessa forma, a Conferência de Paris, "implodiu" o conceito de educação de adultos.

29-Em Portugal, o período de 1985-1995 ficou marcado, por algumas boas práticas de educação de adultos. Em 1986 é aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo, que salvaguardava o papel da educação de adultos e a promoção de políticas que visavam a qualificação da população adulta. Nesse mesmo ano, é abordada a educação de adultos através do ensino recorrente de adultos e da educação extra-escolar, não existindo, portanto, um tratamento articulado dos diferentes contextos educativos formais e não-formais e das diferentes práticas que se inserem dentro do conceito alargado de educação de adultos, parecendo traduzir, por conseguinte, uma não valorização deste campo.

30- A Lei de Bases do Sistema Educativo parecia reduzir a Educação de Adultos ao “ensino recorrente”, à “ educação extra-escolar” e à “formação profissional”, ficando de fora todo campo de intervenção socioeducativa destinada a grupos/comunidades, portanto, não englobando outras dimensões importantes relativas ao conceito de E.A.

31- Na reforma educativa de 1987, a Comissão de Reforma do Sistema Educativo incumbiu um grupo de trabalho para elaborar um diagnóstico da situação da educação de adultos em Portugal, no qual constatavam diferentes problemas discriminados por diferentes áreas: o ensino recorrente e extensão educativa; formação profissional e formação para o trabalho; promoção cultural e cívica e intervenção socioeducativa. Uma das propostas contidas no Relatório deste Grupo de Trabalho foi a criação de um Instituto Nacional de Educação de Adultos.

32- O Instituto Nacional de Educação de Adultos seria uma instituição com personalidade jurídica, autonomia administrativa, financeira, pedagógica e científica, descentralizado a nível regional.
O Instituto teria funções de orientação estratégica, de coordenação, de financiamento, de promoção de projectos e de actividades, de promoção da formação dos agentes e de promoção da participação dos interesses regionais. A nível local propunha-se a criação de conselhos municipais de E.A. com a função de coordenar certas acções. Para além da organização e administração do subsistema de E.A. as propostas visavam, também, diferentes campos de intervenção como o ensino recorrente e a extensão educativa, a formação profissional, a formação para o trabalho, a promoção cultural e cívica.

33- Este Relatório continha propostas que poderiam ter conduzido à valorização da E.A. em Portugal, caso tivessem sido concretizadas. Na prática, o que foi sendo desenvolvido, entre 1985 e 1995, limitou-se essencialmente a acções relacionadas com o ensino recorrente de adultos e com a educação extra-escolar, o que estava previsto na Lei de Bases, e acções de formação profissional financiadas pela União Europeia.