Reflexão sobre Educação de Adultos
Escrever sobre este tema é mais difícil e complexo do que parecia, pelo menos à partida, a educação é um bem que deveria estar ao alcance de todos, pois uma pessoa dificilmente poderá ter uma vida digna num mundo globalizado e capitalista como o que vivemos actualmente, existem pessoas que infelizmente por terem vivido uma má infância ou por viverem isoladas da comunidade, não tiveram acesso a escolas. A educação para adultos pode ser uma esperança para que estas pessoas possam passar a desempenhar uma função diferente na vida e na comunidade onde estão inseridas, aumentarem a sua auto estima, valorizarem-se, e para desempenharem um papel mais activo enquanto cidadão, envolvendo-se e participando mais na vida da comunidade.
Sempre ouvi dizer que o mundo é a melhor escola da Vida e para mim nenhuma educação em meio escolar se pode comparar á experiencia adquirida ao longo de uma vida, as tradições, as experiências profissionais, não cabem dentro de um livro. Segundo Nóvoa existem seis princípios susceptíveis de servir de orientação a qualquer projecto de formação de adultos, um deles é o de saber respeitar a história de vida e a experiência profissional do adulto em situação de formação ”mais importante do que pensar em formar este adulto é reflectir sobre o modo como ele próprio se forma, isto é, o modo como ele se apropria do seu património vivencial através de uma dinâmica de compreensão retrospectiva” (Nóvoa, citado em Canário, 2000, p.21)
À medida que o modelo tradicional de educação se impõe nas escolas torna-se cada vez mais nítido a distinção entre a escola e a vida, é nesta medida que penso que a educação de adultos acima de qualquer coisa deve ter em especial atenção os saberes de cada indivíduo, a identidade, a cultura, as tradições, sabendo respeitar e trabalhar em conjunto e aprendendo em conjunto, “"Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo; os homens educam-se entre si, mediados pelo mundo". (Paulo Freire)
Freire considera que o processo educativo não se restringe ao âmbito da instituição escolar, mas acredita que pode desenvolver-se nas mais diferentes práticas sociais. Daí a sua defesa de que o ponto de partida do acto educacional seja os saberes que trazem os educandos.
Considero de extrema importância a reflexão acerca dos pressupostos éticos, morais e políticos que condicionam a educação. Pois vivemos numa sociedade, em que as elites ditam quais as regras a seguir, quem come, quem estuda, quem é alguém. Os valores perdem-se no tempo e no espaço e o que prevalece é a lei do “mais forte” e do “salve-se quem puder”. A educação tem sido uma maneira de manter a ingenuidade dos educandos, criando sujeitos, espectadores, acomodados com os factos e situações diversas.
A prática de uma educação tradicional é uma mais-valia para os opressores, formar pessoas sem o poder de questionar e argumentar, pessoas que são espectadoras da sociedade, que apenas recebem e aceitam os factos e jamais participam neles. O depósito de conhecimento faz dos homens e das mulheres seres de adaptação e de ajustamento, impedidos/as de terem uma consciência crítica, é preciso mudar esta educação fazer dos alunos sujeitos do mundo e não meros objectos.
Encarar a experiência de vida como ponto de partida fundamental, para organizar projectos de formação origina que vejamos de forma diferente e critica todo o percurso realizado, tornando possível reconhecer situações, contextos e vivências formadoras, tal como identificar capacidades e saberes adquiridos na acção e que apelam a processos de formalização. Esta prática permite encarar o adulto como recurso da sua formação e evitar o erro de ensinar ás pessoas coisas que elas já sabem, ou que não lhes serve de nada.
Como futura Educadora Social, penso que é extremamente importante existirem projectos de apoio á educação de adultos, como é o caso dos Centros de Novas Oportunidades, que valorizam a vida, a prática, os saberes e os interesses de pessoas que muitas vezes não tiveram oportunidade de estudar pelas mais variadas situações e, já numa idade adulta apercebem-se da existência de uma lacuna nas suas vidas, pois já têm emprego, família, casa e, continua, a faltar-lhes o reconhecimento das suas competências.
Micaela Rolão (2º ano)
2009-11-18
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