2009-11-17

Reflexão sobre educação de adultos em Stª Luzia

Com o acontecimento do 25 de Abril de 1974, a Educação altera-se, nesta altura “a agenda dos movimentos sócio-culturais passa a ser outra: a do seu lugar e do seu papel na alteração profunda das estruturas sociais.” (Silva, A.S., 1990) Estruturas estas como organizações, associações, movimentos políticos que actuam a nível local e regional. “A perspectiva que então prevalece é claramente a da “educação popular”, nestes dois sentidos: primeiro, já não se trata de difundir o modelo escolar (…) mas sim de apostar, de um lado, na comunicação entre a escola e o meio social, e, do outro, nos processos educativos de aprendizagem por resolução de problemas e por diálogo entre formadores e formandos, no quadro de projectos e estruturas sociais colectivas; segundo, não se trata apenas de promover actividades educativas, mas, e sobretudo, de focalizar e desenvolver as dimensões educativas de práticas sociais, privilegiando, portanto, as condições e os recursos para capacitação, para aquisição de competências para agir, e as oportunidades e virtualidades formativas e comunitárias dos momentos e práticas lúdicas.” (Silva, A.S., 1990).
Este campo de Educação de Adultos caracteriza-se, “pela diversidade das iniciativas que se acolhem entre as suas fronteiras, elas mesmas dinâmicas.” (Silva, A.S., 1990) Essa diversidade começa por estabelecer diferentes problemas inerentes a este campo social, que da mesma forma o caracteriza, um desses problemas é o analfabetismo “em todas as suas variantes, a insatisfação de necessidades e procuras sociais em educação, a desarticulação orgânica dos diversos níveis e percursos escolares, dos diversos modos e canais de formação, e de todos eles com os mundos do trabalho, da domesticidade e da cidadania.” (Silva, A.S., 1990)
Foi neste contexto de promoção cultural e social que eu, juntamente, com um grupo de amigos criei em Santa Luzia – a minha terra -, um projecto para uma possível Associação que viria colmatar algumas lacunas existentes na nossa comunidade. Com muita convicção do que queríamos fazer e, principalmente, do que era necessário fazer, levámos a cabo a criação da mais recente Associação do concelho de Tavira, a Associação Almadrava – Rede Cultural e Social de Santa Luzia, criada a 22 de Junho de 2009.
Esta Associação surgiu pela “necessidade de dinamizar a vida cultural da localidade, sobretudo junto de públicos muitas vezes esquecidos como os jovens e os idosos, e de não deixar morrer as artes tradicionais. Está na génese deste projecto que pretende agir nos mais diversos domínios culturais, desde a promoção de oficinas ligadas às diversas artes tradicionais, passando pela educação ambiental, ocupação de tempos livres, promoção de artistas e artífices da terra e do concelho, e formação em domínios como as novas tecnologias, a língua portuguesa e estrangeira e, as artes como a dança, o teatro, o cinema ou a música”, pode ler-se no sítio da A. Almadrava na internet.
Para se ficar a perceber o que a A. Almadrava, neste seu pouco tempo de vida, já fez terei que começar do início. Desde mostras de filmes passados e actuais, a exposições, campanhas de solidariedade, formações de inglês básico (propriamente, direccionado para o dia-a-dia numa localidade que recebe turistas estrangeiros), entre outras actividades.
Vou falar mais concretamente, dum episódio que se passou em Agosto passado e, que mais tarde o recordei quando o professor comentou uma experiência sua, também, na minha terra, há já mais de 20 anos. Como a Associação queria mostrar ao pública as suas mais variadas perspectivas, durante 6 dias da ExpoLuzia – feira que antecede as Tradicionais Festas dos Pescadores de Santa Luzia -, e com o apoio da Junta de Freguesia que nos patrocinou dois pavilhões de exposições, conseguimos decorar, mostrar, explicar e até relembrar temas mais ou menos ligados à nossa tradição. No quarto dia da ExpoLuzia, teve lugar o tema – A Pesca; que por tão ligada estar à terra e às suas gentes, suscitou um interesse fora do comum, desde mostras de senhores a construir artes de pesca tradicionais, como a murejona ou o cove, tínhamos uma mostra de um filme dos nossos antepassados – Almadraba Tuneira – filme este que causou um “alvoroço” nesta terra tão pequena. Desde os mais idosos aos mais jovens, nós, enquanto Associação, conseguimos chegar às várias faixas etárias, uns porque queriam relembrar, outros para poderem ficar a conhecer o que foi a vida dos seus avós, ou bisavós. Como era também o meu caso, e sinceramente, também eu estava eufórica para assistir ao filme e, principalmente, ver as reacções daquelas pessoas tão ansiosas, que levaram dias a perguntar: “mas o filme é mesmo sobre as armações do atum?” ou “a que horas passa o filme?”Assim, com um pouco de boa vontade, interesse em conhecer e partilhar experiências, passando um bom momento, junto à ria formosa (mesmo em frente à antiga sede do Clube R.D. Santaluziense), montámos um projector, juntámos umas cadeirinhas e fizemos educação de adultos.Espero continuar a fazer parte duma Associação que tem como base geradora, manter viva a tradição e raízes duma cultura tão bonita como a da minha terra – Santa Luzia e, de, também, poder servi-la.
http://almadrava.pt.vu
Mariana Pereira (2º ano)

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