Terá sido por volta de 1433 que o Infante D. Henrique terá recebido, do rei D. Duarte o exclusivo da pesca do atum no Algarve. Em 1440, D. Duarte concedeu o arrendamento das almadravas a negociantes estrangeiros. Em 1502 o rei D. Manuel I terá criado, em Lagos, a Feitoria das Almadravas. Em 1550, terá surgido em Faro uma feitoria autónoma da de Lagos, por iniciativa da rainha D. Leonor, proprietária das armações existentes na costa próxima de Faro. Nos finais do século XVI, Lagos seria o mais importante centro de exportação de atum, desenvolvendo importantes relações com os países mediterrâneos.
Este comércio manter-se-ia próspero por mais meio século. Na primeira metade do século XVIII, ter-se-á observado um período de crise do atum, para em 1773, o Marquês do Pombal dar novo alento a esta indústria através da criação da Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve e da adopção de um conjunto de medidas de apoio a esta indústria. Será por volta de 1800 que se assiste ao aparecimento de quinze armações de atum, localizadas entre Lagos e Tavira. Depois de uma fase de algum declínio desta indústria nas primeiras décadas do século XIX, a partir de 1830, é extinta a Companhia Geral das Reais Pescarias e assiste-se à criação de várias sociedades de pesca por acções e à introdução de novas tecnologias. Consta que no final do século dezanove, uma armação algarvia pescou cerca de quarenta e um mil atuns e que, por vezes, chegavam a apanhar exemplares com mais de dois metros e trezentos quilos de peso.
Iniciou-se, então, um dos períodos mais ricos, que se prolongaria até à primeira década do século XX. Em 1898 existiam na costa algarvia dezoito armações de atum. Observa-se, então um novo e definitivo período de declínio da pesca do atum devido aos custos de produção, a redução das capturas e a inundação do mercado externo de conservas de atum com origem noutros países que realizavam as suas capturas no Atlântico Norte e na costa de Angola.
Em 1929, assistiu-se ao fim das armações no Barlavento algarvio. Das 17 armações que eram lançadas ao longo de todo o litoral, no começo do século XX, a pesca estava reduzida a 5 artes fixas: "Abóbora" e "Senhora do Livramento", da Companhia Balsense no Algarve; "Medo das Cascas", da Companhia de Pescarias do Algarve; "Barril ou três Irmãos", da Companhia de Pescarias Barril ou Três Irmãos; e "Cabo de Santa Maria", da Companhia de Pescarias do Cabo de Santa Maria, Ramalhete e Forte.
Em 1967, lançou-se, pela última vez, a única armação existente em Faro. A partir de então, só Tavira detinha armações. Em 1961 António Campos filmou a última campanha do arraial que se instalava na ilha da Abóbora, diante da localidade de Cabanas de Tavira. Foi a última campanha daquele arraial, que o mar engoliria no Inverno seguinte. Em 1968 o realizador Hélder Mendes terá testemunhado a última grande campanha do Arraial Ferreira Neto, em Tavira
Em 1971, a Armação da "Abóbora" em parceria com o Barril lançou a armação, aproveitando o material ainda existente nas duas companhias: "Balsense no Algarve" e "Pescarias Barril ou Três Irmãos". A extinção da pesca do atum na costa algarvia veio a verificar-se no ano imediato, numa parceria das armações "Medo das Cascas" e "Abóbora", cujo resultado foi a captura de um único tunídeo.
Actualmente, há apenas uma armação do atum, em Olhão/Tavira, cuja produção de tunídeos segue para o mercado português, mas também inglês e holandês. O aumento do número de restaurantes de sushi, e o aumento dos combustíveis obrigou a Empresa de Pesca e Tunídeos, com capitais portugueses, mas que funciona com técnicos e tecnologias japonesas, a mudar o perfil da exportação do pescado. Até há pouco tempo, a empresa capturava o atum, através da armação, e enviava o peixe fresco directamente de avião para o Japão, onde era vendido a preços astronómicos pela grande qualidade que lhe era conferido por especialistas japoneses. Hoje em dia, 95% dos atuns é destinado ao mercado europeu.
Fausto Costa escreveu num total de 191 páginas um livro intitulado «A Pesca do Atum nas Armações da Costa Algarvia», editado pela Editorial Bizâncio, que aborda a vida e costumes dos pescadores da pesca do atum, nomeadamente nas armações de Tavira (Abóbora, Barril, Livramento e Medo das Cascas), assim como de um enquadramento histórico desde a antiguidade até ao fim das armações, nos anos sessenta do século XX.
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1 comentário:
Boa tarde antes de mais gostaria de agradecer pelo conteudo do seu blog e agora passo a explicar o motivo do meu contacto.
"Consta que no final do século dezanove, uma armação algarvia pescou cerca de quarenta e um mil atuns e que, por vezes, chegavam a apanhar exemplares com mais de dois metros e trezentos quilos de peso. "
Faz alguns anos também li esta informação on line e depois vim a saber que fazia parte de um trabalho de uma investigação de uma Sra. Entretanto perdi a acesso à fonte, por acaso não me pode fornecer a sua fonte desta informação? Obrigado
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