2008-03-28

E.A. II - Texto de apoio para o trabalho de grupo

Texto de Apoio

“Quem não sabe o que procura não valoriza o que encontra”

Uma das primeiras tarefas do investigador é elaborar um plano de trabalho. Do ponto de vista prático, isso consiste em tentar elaborar um projecto de título, de bibliografia e de índice geral, assim como um esboço da introdução. Todos estes elementos começam por ser apenas instrumentos destinados a clarificar e organizar as ideias e a auxiliar a planificação do trabalho do dia a dia. Serão frequentemente modificados à medida que a investigação avançar, de tal forma que, se houver um verdadeiro salto qualitativo no conhecimento do tema que estamos a estudar, eles poderão estar irreconhecíveis no trabalho final. Nesta primeira fase não há preocupações com as questões de estilo. O que interessa é tentar pôr no papel as nossas ideias. Se depois de escritas, elas nos parecerem obscuras ou mesmo ininteligíveis, é mais natural que o problema resulte de as nossas ideias serem mesmo pouco claras…
O título define e delimita o tema, o índice geral organiza e relaciona os diferentes aspectos e partes do tema, permitindo enquadrar todas as abordagens analíticas e de pormenor num visão sintética e de conjunto. O projecto corresponde a um plano de pesquisa. O esboço de introdução tem em vista esclarecer as nossas ideias sobre os objectivos, ponto de partida e métodos da nossa investigação. O rendimento da investigação depende da sua boa preparação. Investigar é antes de mais interrogar. Para tal temos que saber bem quais as questões de partida que queremos colocar no início do Estudo.
1-Escolha e identificação do tema
◊- Escolher o tema do Estudo a partir de um conjunto de factores: relevância no contexto da respectiva disciplina, interesses pessoais, possibilidades de orientação, existência e acessibilidade de fontes adequadas.
◊- Definir e delimitar o tema através de um título provisório do trabalho.
◊- Definir o tema em termos de uma questão principal
◊- Definir os principais conceitos e ideias -chave relacionados com o tema.
2-Pesquisa preliminar / Recolha de informação geral
Logo que o tema esteja escolhido é possível realizar uma pesquisa preliminar em livros e outros documentos, onde o tema se inclua (procurando os conceitos e ideias -chave já definidos), e ainda em obras de referência, como enciclopédias e dicionários. Estas obras podem remeter para a literatura específica mais importante e significativa sobre o assunto. Esta pesquisa preliminar tem em vista obter:
a) Um breve panorama do tema.
b) Um reportório dos mais importantes nomes de pessoas e locais, datas e conceitos associados com o tema.
c) Um léxico da principal terminologia especializada utilizada no tratamento do tema.
d) Um primeiro reportório da mais relevante bibliografia sobre o tema, citada nas fontes consultadas.
Elaborar fichas de leitura para a) e fichas separadas para cada tópico de b), c) e d).
3-Análise preliminar
A recolha efectuada durante a fase anterior deve permitir dar os primeiros passos na análise do tema:
a) Redefinir o tema de forma mais detalhada e através de questões mais específicas. O esforço posto na redefinição nesta primeira fase do projecto permitirá não perder de vista a visão de conjunto do tema e do seu enquadramento global, que se poderá tornar mais difícil numa fase mais avançada da investigação e, por outro lado, permitirá planear e obter maior rendimento na investigação posterior.
b) Equacionar as diferentes abordagens possíveis para “responder” às questões de partida. Há que ter em conta que diferentes abordagens poderão obrigar à utilização de diferentes fontes e métodos de investigação.
c) Elaborar um plano de índice geral, organizando e relacionando os diferentes aspectos e partes do tema, procurando enquadrar todas as abordagens analíticas e de pormenor num visão sintética e de conjunto.
d) Elaborar um esboço de introdução, tendo em vista esclarecer as ideias sobre os objectivos, ponto de partida e métodos da investigação.
e) Identificar todas as ideias e palavras-chave que possam descrever ou estar relacionados com o tema, incluindo todos os sinónimos.
f) Identificar todos os principais conceitos que possam estar relacionados com o tema, incluindo os mais importantes nomes de pessoas e locais, datas e factos associados com o tema. Esta identificação permitirá não só alargar as ideias e palavras-chave utilizados na pesquisa bibliográfica, como melhorar a compreensão do contexto geral onde se integra o tema em estudo.

4- Plano de leituras/bibliografia
Proceder a uma pesquisa bibliográfica, documental, cibernética. Esta fase obriga a que o tema tenha sido previamente traduzido num conjunto de ideias e palavras-chave através dos quais se procede à pesquisa. Estas palavras dependerão naturalmente dos descritores utilizados nas bibliografias. Se já conhecemos alguns textos cujo conteúdo tenha grande coincidência temática com o nosso trabalho, podemos começar precisamente por ver quais os descritores utilizados por um dado serviço para o indexar, o que podem ser feitos facilmente nas pesquisas automáticas. Além da pesquisa por assuntos, pode revelar-se muito útil a pesquisa por autores cuja obra seja importante no âmbito do nosso trabalho. A pesquisa em livros e revistas é a mais frequente, mas também podemos proceder a buscas em teses ou actas de reuniões científicas. Embora pelo menos uma parte tenha que preceder o início da investigação, a pesquisa bibliográfica não termina depois de iniciado o trabalho, pois não só este leva a modificações ao plano inicial e a novas necessidades de informação, como continua a ser editada literatura relevante para o Estudo. Este facto obriga-nos a um trabalho regular nas bibliotecas e com a literatura crítica, que se mantém para além das pesquisas específicas.
Na elaboração da bibliografia começar-se-á por recolher referências citadas nas obras da consulta prévia, referências extraídas dos guias e bibliografias correntes e periódicas e referências obtidas em catálogos de bibliotecas. A pesquisa em bibliotecas deve ser executada de forma sistemática, de acordo com um plano que pode consistir nos seguintes passos:
◊- Localização das fontes da bibliografia. A fase final na elaboração de um reportório bibliográfico consiste na selecção da literatura e na localização física das fontes. Nem todas as referências bibliográficas que possuímos correspondem a livros ou artigos que merecem de facto ser lidos. Por vezes, considerações de ordem financeira (custos de aquisição ou encomenda de fotocópias de artigos que não existem em Portugal) podem forçar-nos a optar por uma lista mais reduzida de fontes a consultar. Além da avaliação do conteúdo do artigo pelo que vem descrito no resumo, são factores a ter em conta o facto de o autor ser um reconhecido especialista, o estatuto científico da instituição onde o trabalho foi realizado ou da revista onde foi publicado e o tempo decorrido desde a publicação. A localização dos livros e artigos pretendidos é frequentemente um passo frustrante. Para possibilitar a localização de livros existentes nas bibliotecas portuguesas foi criada a PORBASE, sedeada na Biblioteca Nacional de Lisboa, mas esta base de dados ainda cobre um número reduzido de bibliotecas e a maioria só para as aquisições recentes. Para as revistas, também existem catálogos registando as existências de periódicos nas bibliotecas.
◊ - Avaliação das fontes. Nem todas as referências que constam inicialmente de um projecto de bibliografia são adequadas ou devem ser utilizadas da mesma forma. Eis alguns parâmetros a considerar na avaliação das fontes:
a) O autor é um reconhecido especialista ? O texto em questão diz respeito à sua área de especialidade ? Ver a informação biográfica que constar da fonte (usual no caso dos livros) ou em directórios da área. Quais as opiniões expressas por outros membros da comunidade científica em relação ao artigo ou livro em questão ou em relação a outros textos do mesmo autor ? Existem muitas edições da mesma obra ? Ver se o nome do autor consta frequentemente das bibliografias da área ou se é citado por outros autores. Qual a instituição a que se encontra associado ?
b) Quem publicou o texto ? Trata-se de um artigo publicado numa revista reconhecida como sendo de qualidade académica ? O editor é uma instituição académica ou universitária ou uma editora comercial ? Neste último caso, trata-se de uma editora reconhecida na edição académica ?
c) A narrativa, as afirmações e as opiniões contidas no texto encontram-se devidamente fundamentadas ? As fontes utilizadas pelo autor encontram-se devidamente referenciadas ? Parecem ser adequadas ? O autor apenas se baseia em fontes secundárias ?
d) Quando é que a fonte foi publicada ? O tema tem sido muito tratado por autores mais recentes ? Existe uma edição mais recente da mesma obra ? Trata-se de uma reedição revista ? A bibliografia foi actualizada ?
◊- Notas de pesquisa. A leitura da literatura crítica deve ser acompanhada de imediato pela redacção de notas. Do trabalho realizado nas bibliotecas, resulta uma massa de informação armazenada pelo investigador, na forma de fotocópias e apontamentos. Estes últimos são normalmente redigidos sob a forma de fichas, pois estas podem ser facilmente manipuladas, reordenadas e classificadas, o que já não acontece com apontamentos feitos em cadernos. Entre as primeiras fichas a ser elaboradas contam-se as fichas bibliográficas, de pequeno formato, contendo apenas a informação necessária para identificar e localizar a fonte, sob a forma de referência bibliográfica. Além destas, devem igualmente utilizar-se fichas de leitura, de maiores dimensões, onde, além da referência, se anota o que for relevante para o nosso trabalho. A estrutura e a forma de classificar a ficha de leitura depende do objectivo em vista. Tomar notas durante a leitura de uma obra pode não só melhorar a forma como ela é lida, mas também pode fornecer um importante núcleo de texto no momento da redacção. Ao elaborar a ficha de leitura está-se a realizar um tratamento da informação que se revela de grande utilidade no momento de escrever o trabalho final. Se isso não for feito no momento da leitura, pode ter que ser feito na fase final, o momento em que a visão do problema é melhor, mas que não é certamente aquele em que se está com mais paciência e disponibilidade. As fichas de leitura não são apenas uma fonte para a redacção do texto e das suas notas, mas também um instrumento para organizar a investigação, as ideias e o texto final.

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