2008-04-30

Sobre o perfil do educador de adultos

Hoje, depois da aula recebi um mail da Filipa sobre o tema discutido na aula "O perfil do educador de adultos" que passo a partilhar...

Professor:
Gostei muito da aula de hoje que me vez vir a pensar sobre o educador de adultos e a importância de ele desempenhar bem o seu papel e a consciência que ele deve ter disso. Escrevi um texto pequenino que também conta uma má pratica de educação de adultos levada a cabo aqui ao pé da minha casa que me deixou muito ... revoltada é o termo certo, mas controlada... não se preocupe.
"Aqui ao pé da minha casa há vários cursos EFA. Um deles dava equivalência ao 9º ano e era o curso deempregado/a de mesa. Os educandos eram mulheres, desempregadas, com idades mais ou menos entre os 27 e os 45. Uma das educandas é minha amiga e quando a encontrei em Agosto soube que ela estava a tirar o curso. A experiência dela não estava a ser nada boa. Naquele momento, a meio do curso estava a "estagiar" num dos maiores e mais movimentados restaurantes aqui da zona ( que conveniente) mas ela disse-me que fazia tudo menos servir à mesa. Inclusivamente até usou a expressão "ando sempre com a esfregona atrás". Não recebeu um tostão por este estágio. Mas ainda há mais, o gerente do restaurante é, adivinhe-se... um dos seus professores. Os professores ( e é assim que ela lhes chama) são os professores que leccionam na escola básica, deduzo que muitos deles não tenham qualquer formação em educação de adultos. Além disso estes curso são remunerados. A entidade atrasava-se sempre nos pagamentos, 1 mês, 2 meses. Uma falta de respeito total para com estas pessoas adultas, com vidas e experiências próprias. Esta situação afectou de tal maneira esta rapariga que ela já não quer fazer mais acções de formação porque tem medo que aconteça o mesmo. O suposto estágio que mais serviu interesses privados do que o das educandas foi efectuado a meio do curso, por isso, quando voltaram às aulas elas já nem sequer estavam motivadas e achavam que aquilo não fazia muito sentido. O que se passou aqui foi uma vergonha. Usaram a necessidade dos outros para servir interesses que não o dos educandos, com uma total falta de respeito pelas pessoas e indo contra todos os objectivos da educação de adultos. Atrevo-me a dizer que isto nem pode ser chamado de Educação de adultos porque estas raparigas e mulheres não adquiriram competências novas para a vida, não melhoraram as suas condições de vida, no caso particular da minha conhecida até piorou. A vertente transformadora da realidade em que elas estavam inseridas e a importancia do papel da cada uma delas na construção da sua vida não foi de todo transmitida. Este é um caso de má prática e infelizmente acontece mais vezes do que gostariamos.Uma vez li um artigo do Alberto Mello em que ele dizia que a pouca importância dada pelas classes dominantes à educação de adultos reflectia o seu caracter hegemónico. A classe dominante procura transmitir a mensagem de que "não há nada a fazer". Por isso o nosso papel enquanto educadores de adultos é tão importante. A nossa formação enquanto Educadores Sociais e Educadores de Adultos permite-nos ir contra essa atitude fatalista. Somos nós, com o nosso empenho, entrega(como diz a Daniela) compreensão, solidariedade, que vamos lutar contra estas situações, evitá-las e preveni-las. O sucesso do nosso trabalho é que vai modificar as mentalidades, por isso é que é tão importante fazê-lo bem, não só porque trabalhamos com as pessoas, as suas vidas e os seus contextos sociais, mas também porque é através da credibilização da nossa profissão que lhe será dada a devida importância. Se nós formos bons educadores de adultos, se formos de encontro aos verdadeiros objectivos da profissão estamos a contrariar essa tendência fatalista que os que estão no poder nos fazem crer que existe. A mudança social é possivel e nós somos um dos seus pontos chave.Esta é a razão porque este curso é tão importante e porque todas nós devemos ter consciência disso. O papel do Educador de Adultos no combate à injustiça, à desigualdade, na luta pela equidade é fundamental. Este papel tem que ser reconhecido por todas as entidades, comnidades e individuos, mas só o será se nós o desempenharmos com a ètica necessária. Penso que esta é uma profissão de paixão. Sendo o Educador de Adultos um forte agente de mudança tem de estar confiante, motivado e seguro da sua capacidade de impulsionar, junto com todos os outros agentes, onde o individuo tem um papel importantissimo, a mudança. A meu ver, é um privilégio fazer parte de todo um processo de mudança social, onde o ultimo e final objectivo é a justiça e igualdade. Temos que acreditar que o nosso trabalho é importante... porque é e importa".

Filipa

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