2008-04-22

Disciplina de E.A. II

Texto de Apoio: O Teatro na Educação de Adultos

Vivemos hoje numa era de grandes dilemas, num tempo de transição cultural onde se acumulam as indefinições, as aparentes perdas de referencial e os problemas de convivência, com a agravante de o sentimento de insegurança ser partilhado à escala mundial. São também profundas as preocupações com o desemprego, a exclusão social e a persistência de grandes desigualdades. É na educação de adultos que se encontra o compromisso de procurar transformar as condições concretas de vida destas pessoas, através de uma intervenção que permita a mudança de relações de poder, o aumento da sua capacitação, a transferência de competências, no sentido do desenvolvimento pessoal e social. O objectivo é promover actividades educativas junto aos mais variados sectores populares, processos intensos de discussão, análise e reflexão, que potenciem a conscientização e participação destas pessoas no sentido de compreenderem, dentro de uma perspectiva histórico-social crítica, as razões e os porquês da sua situação económica, social e cultural. E, ao entenderem isto, começam a eliminar o carácter fatalista propagados pela ideologia dominante, passam a encontrar alternativas de mudança e de melhoria para as suas vidas. A educação de adultos é uma educação para a compreensão mútua, contra a exclusão por motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação. A filosofia primeira na qual o educador de jovens e adultos precisa ser formado, é a filosofia do diálogo. Quando se pretende mobilizar e incentivar os adultos para as actividades de educação de adultos, devem utilizar-se métodos e técnicas adequadas, dependendo também se estão muito ou pouco motivados. Há diferentes formas e métodos de educação de adultos que podem ser utilizados. Há formas mais suaves como as exposições, as conferências, o cinema, o serão social, o teatro. O teatro pode ter um efeito educacional muito importante pois, como método, ajuda a despertar a curiosidade necessária para temas complexos de modo a transformar consciências ingénuas em consciências mais críticas. No Algarve, a exemplo de outras regiões do país, existem muitos grupos de teatro locais que utilizam o palco como espaço para a discussão de questões que afligem a sociedade. Há grupos que, depois de representada a peça, provocam o público face aos factos trazidos à cena e convidam os espectadores a participarem no debate. Este é um aspecto muito interessante, que é levar a assistência a discutir o que viu depois da representação. È muito educativo e pode ser revelador de atitudes e opiniões. O Teatro pode despertar na plateia a curiosidade epistemológica necessária para fomentar a aprendizagem e o diálogo necessário para construir o conhecimento de modo a formar a consciência crítica da realidade, tão necessária para a construção da cidadania. O teatro é uma arma. Uma arma muito eficiente, por isso, as elites, muitas vezes, tentam apropriar-se do teatro e utilizá-lo como instrumento de dominação. O teatro pode ser uma arma de libertação. Para isso é necessário criar diferentes formas teatrais, como por exemplo, o teatro dialógico e político onde todos, plateia e actores, dialogam em torno de uma temática relevante para a comunidade. Após uma representação devem ser os actores a orientarem a discussão. Também é natural que eles sejam os primeiros a querer saber o porquê das reacções da assistência. Mas este momento nunca deverá apresentar um aspecto formal, deve ser muito informal e devem ser colocadas questões polémicas para quem quiser responder. Uma boa pergunta de partida pode ser “ E o que aconteceria a seguir? Porquê?”. Esta é uma questão que parece motivar as pessoas a responder e que pode revelar a maneira como percepcionaram a peça, para além de poder provocar uma discussão mais viva. Nesta perspectiva o teatro, pode constituir-se como forte instrumento formativo e de construção de uma sociedade mais consciente e mais humana, além de fomentar a auto-estima e a importância da educação não formal. Um exemplo de teatro dialógico é o Teatro do Oprimido, um método estético que sistematiza exercícios, jogos e técnicas teatrais que objectivam a democratização do teatro. O Teatro do Oprimido parte do princípio de que a linguagem é a linguagem humana que é usada por todas as pessoas no dia dia. Sendo assim, todos podem desenvolvê-la e fazer teatro. O Teatro do Oprimido cria condições práticas para que as pessoas se apropriem dos meios de produzir teatro e assim ampliem as suas possibilidades de expressão, além de estabelecer uma comunicação directa, activa e intencional entre espectadores e actores.

Referências bibliográficas
Boal, A. (2005). Teatro do Oprimido - e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Norbeck, J.(1981). Formas e Métodos de Educação de Adultos. Universidade do Minho

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