2010-04-05

Comentário ao vídeo de Chimamanda Adichie.

“O que isto demonstra, penso eu, é o quão impressionantes e vulneráveis somos, face a uma história, particularmente as crianças.” Chimamanda Adichie.
Ao longo do seu testemunho, Chimamanda mostra-nos o perigo da História Única, o poder que as histórias têm para fazer mudar o rumo dos acontecimentos das nações, dos povos, das pessoas. A autora nigeriana começa por esclarecer que também ela foi vítima da história única; em criança, quando escrevia as suas histórias, as suas personagens eram crianças loiras, de olhos azuis e que brincavam na neve. Isto porque, Chimamanda lia livros de histórias de escritores Norte-Americanos e Britânicos. As realidades das histórias que lia com tanto entusiasmo eram, completamente, diferentes das do seu país – Nigéria.
Assim que teve os primeiros contactos com escritores africanos, a sua percepção sobre a sua própria cultura mudou pois, afinal era possível escrever sobre coisas que reconhecia e que realmente existiam. Apesar de assegurar que a literatura Norte-Americana e Britânica foram uma boa influência, pois “eles agitaram a minha imaginação. Eles abriram novos mundo para mim”, a escritora reconhece a valorização de escrever sobre temas que estão enraizados em nós mesmos, temas esses que conhecemos e desmistificamos idoneamente perante outras pessoas. Contudo, os livros que leu enquanto criança remeteram-na e fecharam-na num mundo que ela pensava até ali, que era único, “a consequência não intencional, foi que eu não sabia que as pessoas como eu, podiam existir na literatura”. A descoberta de autores africanos representou para Chimamanda, a salvação de ter uma história única daquilo que os livros são.
Mais tarde, aquando do seu crescimento, também desmistificou a ideia de que as pessoas pobres, tais como as da família do seu “moço de recados”, Fide, não pudessem, de facto, criar algo. Ela própria embrenhou no perigo da história única ao assumir que as pessoas, por serem pobres, viviam impossibilitadas de criar e produzir. A pobreza desta família era a sua história única sobre eles.
Anos mais tarde, já adolescente, deparou-se com a história única criadas por pessoas que adoptam, automaticamente, juízos de valor com o desconhecido. O bom exemplo disso é a sua companheira de quarto universitária que, demonstrou ter uma história única sobre África ao assumir que todos os africanos eram incapazes de usar um fogão, só ouviam músicas tribais e, confessou ter sentido pena da futura colega de quarto nigeriana mesmo antes de a conhecer. África era a história única da sua colega de quarto.
O facto de, durante o nosso crescimento, desenvolvendo as nossas experiências e aprendizagens, sermos influenciados por determinadas histórias singulares, leva-nos a construir uma série de juízos de valor sobre temas, situações, contextos e, até mesmo, pessoas, que revelam-se difíceis de desmistificar. Nós estamos tão submersos e convictos daquilo que nos transmitem – seja uma pessoa, a família ou a sociedade – que acabamos por cometer erros e atitudes discriminatórias, julgando erradamente as pessoas que são detentoras da sua própria história de vida, independentemente, da sua cor, do seu país, da sua religião.
Chimamanda explica como cometemos o erro de formarmos as histórias únicas: segundo esta escritora ao se “mostrar um povo como uma coisa, vezes sem conta, é nisso que eles se tornam”. De acordo com a mesma, as Histórias Únicas e Poder estão, intimamente, associados. “O poder é a capacidade de não só contar a história de outra pessoa, mas de fazê-la a história definitiva dessa pessoa”. O poder político das nações mais importantes tem o condão de alterar, drasticamente, a história de um país, de um povo, de uma pessoa. Todas as histórias fazem de nós quem somos e se insistirmos apenas nos aspectos negativos, planamos a nossa própria experiência e esquecemos tantas outras histórias que formam todo e qualquer indivíduo. “A história única cria estereótipos”, mas segundo Chimamanda, o problema não passa pela mentira que os estereótipos produzem, mas sim, pelas inacabadas historias que eles representam; “eles fazem uma história tornar-se a única história”.
Em Psicologia Social designamos este comportamento de Percepção Interpessoal e Formações de Impressões, ou seja, categorizamos e simplificamos conceitos e grupos sociais. Quando nos referimos a um grupo de pessoas como “ os pretos…,”, “os ciganos…”, “os homossexuais…”, “as loiras…”, entre outros, estamos a atribuir categorias a estes mesmos grupos. São designações estereotipadas e preconceituosas que já se estudam em diversas áreas, tanto cientificas como sociais, mas… quem nunca disse? Quem nunca fez? Quem nunca emitiu um juízo de valor precipitado? Quem nunca acusou tendo com base apenas uma versão? Será que o ser humano está destinado a cometer, continuadamente, os mesmos erros? É por isso que a consequência da história única rouba as pessoas da sua dignidade. Faz com que se destaque a diferença entre todas as pessoas em vez das suas similaridades. É necessário haver um “equilíbrio de histórias”, porque as histórias também podem ser usadas para potenciar e para humanizar. As histórias também podem reparar a dignidade de um país, de um povo, de uma pessoa.
Para terminar, Chimamanda deixa-nos um pensamento sábio que reflecte a sua força e a sua resiliência: “que quando rejeitamos a história única, quando nos apercebemos que nunca há uma história única sobre um lugar, reconquistamos uma espécie de paraíso”.

Trabalho de: Andreia Barracha, Ana Madeira, Filipa Custódio, Filomena, Mª. Leonor Paulino

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