2010-03-05

Texto para reflexão na aula

Num relato autobiográfico a pessoa tem de ser capaz de falar de si. Ser capaz de falar de si também dependerá da auto-estima, da confiança, do modo de pensar e falar sobre a sua experiência de vida. A experiência de falar de si, é indissociável dos processos de comunicação consigo próprio, com os outros e com o universo simbólico de um determinado contexto social e cultural. Como explicar uma determinada ruptura biográfica? Como explicar uma determinada mudança no curso da vida? Será obra do acaso ou será a própria pessoa que determina face à influência do contexto onde interage? Ou será efeito da denominada “dupla hélice” (Kaufmann, 2005), porque a estruturação da existência não tem nada de estático ou linear, pelo contrário, forma-se num movimento giratório, no cruzamento de acontecimentos, situações, ideias. Dupla hélice porque, segundo Kaufmann, este movimento giratório se desenrola segundo duas modalidades muito diversas, uma que se denomina de socialização pura sem intervenção do pensamento reflexivo, em que o destino social confere sentido à vida, é a “lógica das coisas”, e uma segunda modalidade que diz respeito à subjectividade, à representação das coisas e às decisões adoptadas.
A pessoa ao tentar responder à questão “Quem sou eu?”, interroga-se quanto à sua identidade. A questão da identidade deve, então, ser pensada enquanto processo permanente de criação e recriação de si, na relação que a pessoa estabelece com os outros. Assim, a questão da identidade não será «quem sou eu?» mas «quem sou eu em relação aos outros, o que são os outros em relação a mim?». Este processo de construção da identidade individual obrigará a um exercício permanente de auto-questionamento, à procura de sentido para as coisas e para si próprio, a partir da auto-reflexão e da comunicação.

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