2010-03-08

Texto para discussão na aula de E.A.II

A propósito do dia 8 de Março Dia Internacional da Mulher

Hoje é… dia 8 de Março, data instituída pela ONU, em 1977, para comemorar o Dia Internacional da Mulher em memória de uma greve levada a efeito, em1857, por operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque. Esse grupo de mulheres ocupou a fábrica e reivindicou melhores condições de trabalho, redução na carga diária de trabalho para dez horas, quando trabalhavam 16 horas por dia e equiparação de salários com os homens, já que recebiam cerca de um terço do salário dos homens.
O Dia da Mulher parece servir não só para comemorar, um dia no ano, esse acontecimento, como servir de pretexto para que os media falem da data e os políticos discursem sobre a coisa.
Eu, não sou apologista deste tipo de comemorações, a exemplo do dia dos namorados, dia do pai, dia da mãe…sobretudo, por estes dias se tornarem mais um pretexto para que os namorados, os maridos, os homens se entreguem a uma corrida desenfreada ao consumo. São os presentes, os ramos de flor, os bombons, a marcação do jantar no restaurante mais “in”, ou então, são as discotecas com os ladie`s night, ou as sessões de striptease masculino, em que, algumas mulheres, uma vez no ano, acabam por imitar os homens. E não gosto deste tipo de comemorações, que me irritam profundamente, porque qualquer dia, qualquer fim de semana, é uma boa data para oferecer flores, para comer bombons, para ir a um restaurante, para ir à discoteca e porque não assistir a uma sessão de striptease, se isso lhe(s) dá prazer. Qualquer dia, qualquer data do ano, será uma excelente oportunidade de fazer alguma coisa diferente, de haver uma atenção especial, um carinho, o que quer que seja…não é preciso esperar pelo 8 de Março.
Estas são as razões porque não gosto muito deste tipo de comemorações, mas acho que o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, como efeméride, será uma data de homenagem às 130 mulheres que, em 1857, terão morrido carbonizadas em defesa dos seus direitos de operárias fabris. Todos os dias deverão ser importantes para que tenhamos presente que há mulheres que continuam a sofrer mais que os homens com o desemprego, com o trabalho precário, que há mulheres que continuam a ser vítimas de violência doméstica, há mulheres que são vítimas de discriminação nos seus empregos, há mulheres vítimas da guerra, há mulheres que continuam a não ter acesso à educação e à cultura. Todos os dias serão importantes para relembrar que Todos e Todas temos o dever de denunciar todas as situações de injustiça, de Todos e Todas devemos dar o nosso contributo para erradicar, de uma sociedade que se pretende democrática, todas as formas de exclusão, seja sexismo, racismo, xenofobia. Todos os dias serão importantes para que possamos reflectir sobre a forma como a esmagadora maioria de nós fomos educados, quer na escola, família, comunicação social, que são responsáveis pela clara definição dos papéis desiguais da mulher e do homem, com consequências dramáticas na sociedade. Bastam somente alguns dados para essa comprovação: alto índice de violência doméstica sofrida pela mulher (com um número assustador de mortes), independente de raça, cor, etnia, classe social ou escolaridade; a média salarial baixa, mesmo com maior formação; fraca percentagem de mulheres que ocupam cargos de liderança, etc…Por outro lado, a discriminação da mulher também tem estado associada à tirania das palavras. A linguagem enquanto discurso não constitui um universo de signos que serve apenas como instrumento de comunicação ou suporte de pensamento. É interacção e um modo de produção social. Não é neutra, nem inocente, na medida em que tem uma determinada intencionalidade. Talvez que, acabar com a linguagem sexista, seja uma boa forma de acabar com certos padrões comportamentais.
O próprio Paulo Freire reconheceu a sua linguagem machista. Ao publicar, em 1992, A Pedagogia da Esperança - um reencontro com a Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire fez, com muita humildade, uma análise do volume imenso de cartas que recebeu, em Genebra, com críticas de mulheres norte-americanas, depois do lançamento do livro, na sua primeira edição, no início de 1971. Dizia Paulo Freire que ao referir a opressão e a libertação, criticava com indignação, as estruturas opressoras, utilizando uma linguagem machista, portanto discriminatória, em que não havia lugar para as mulheres. Paulo Freire referia que ao procurar justificar-se sobre o tipo de linguagem machista que usava, percebia a mentira ou a ocultação da verdade que havia na afirmação: “Quando falo homem, a mulher está incluída”. E porque é que os homens não se acham incluídos quando se diz: “As mulheres estão decididas a mudar o mundo?” Paulo Freire entendia que a discriminação da mulher, produzida através de um discurso machista é uma forma colonial de tratá-la, incompatível, portanto, com qualquer posição progressista. Para Freire combater a ideologia machista, recriando a linguagem, faz parte do sonho possível em favor da mudança do mundo.

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