2008-03-24

E.A. II - Trabalho sobre Paulo Freire

“Eu continuo a dizer, homens e mulheres, não viemos para o mundo para ser treinados, fizemo-nos no mundo seres modificadores. A adaptação ao mundo é apenas um momento do processo histórico. Adapto-me para amanhã, desadaptando-me corrigir o mundo e inserir-me nele”.
Freire, 1997

Para compreender o pensamento – a teoria do conhecimento – de forma correcta temos de ter presente o contexto em que surgiu, sob pena de não ter sentido e de não percebermos a razão que levou a desenvolver as suas teorias. Situemo-nos na década de 60, Nordeste Brasileiro. Paulo Freire começou a desenhar este pensamento durante a sua adolescência, em que conheceu uma pobreza que lhe era distante antes da grande depressão.
Paulo Freire chama a si a “vida” de cada um para o seu projecto de Alfabetização onde juntou estudo, experiência, trabalho, pedagogia e política, criando uma nova pedagogia que tem de ser entendida no contexto em que surgiu (50% de população analfabeta – “cultura do silêncio” como ele lhe chamou).
A sua obra pode resumir-se numa palavra: interdisciplinaridade. Para ele é uma exigência e através de todas as disciplinas do saber pretende criar uma escola mais participativa. É esse o objectivo da interdisciplinaridade: provar a dialogicidade das experiências do quotidiano de educador e educando.
Freire busca incessantemente um novo mundo. A chave do seu pensamento é a conscientização (através da qual oprimidos e opressores capacitam-se do seu valor e como podem accionar os seus direitos). Defende, Freire, a necessidade de nos distanciarmos do “nosso mundo” para podermos intervir nele. Paulo Freire pretende contribuir para a formação deste novo mundo com a “devolução” do próprio destino a cada ser humano e faz isso dando “o poder da palavra”, alfabetizando e lutando contra a “cultura do silêncio”. Pois a Educação é um direito de todos para que estes conscientemente contribuam para a mudança da sua realidade social – mais justa e igualitária – ESTANDO NO MUNDO, SABERENDO-SE NELE -
A dialogicidade fomenta a universalidade.
Uma frase de Freire que pode definir a vontade, o querer a dignidade sem fronteiras, para todos pode ser esta: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”
Na obra de Paulo Freire “lê-se” que o seu gosto pela liberdade acaba por ser o fulcro da sua tese liberdade-libertação.
Freire conceptualizou a politicidade da Educação, foi o precursor da pedagogia crítica.
Todos os elementos por ele defendidos são intemporais (característica de um clássico).
Os seus primeiros livros espelham o pensamento político-pedagógico e a reflexão em torno da acção político-administrativa de Freire enquanto Secretário de Educação do Município de S. Paulo. Nas suas obras mais recentes Freire retoma muitos dos tópicos mais marcantes do seu início, procurando novas articulações como a ideia da Pedagogia da Autonomia, enquadrando-a numa organização educativa estruturada e governada democraticamente. A riqueza intelectual das suas ideias são base de muitos diálogos e reflexões, e também devido a estas reflexões assiste-se a uma mudança na linguagem nas suas últimas obras, marcadamente “não-sexistas”, o que era raro nas publicações de língua portuguesa.
Freire dividia a sociedade em duas classes que ele classificava de Classe Dominante e Classe dos Oprimidos e que, segundo ele, a dos Dominantes (privilegiados) impedia que a maioria (Classe dos Oprimidos) usufruísse dos bens que produzia e, principalmente do bem necessário para a concretização da vontade humana de “SER MAIS”. Esse bem precioso – a Educação – excluía essa grande maioria. Achando que a Classe Dominante fundamenta a sua pedagogia na “Lei do Funil” (concepção bancária da transmissão de saberes e que transforma o educando num receptáculo onde é depositado um saber verbalista, autoritário, de “cima” para “baixo”. Um tipo de Educação conservadora, onde não há contradição, onde manda quem sabe), Paulo Freire a essa pedagogia contrapõe uma relação horizontal, de dialogicidade, onde educador e educando estão ao mesmo nível e que fomenta o “ensinar aprendendo” ao mesmo tempo que se “aprende ensinando”. Freire defende que o Educador deve utilizar o princípio dos “vasos comunicantes” em lugar da “Lei do Funil” com a finalidade de acabar com a posição passiva e inactiva que leva o educando só a escutar e obedecer ao educador.
Para Paulo Freire, o fracasso máximo do educador é o que resulta da Lei do Funil, do diálogo vertical pois este é impeditivo de uma mudança social e que não deixa acontecer a conscientização, que daria ao educando a verdadeira noção do seu valor social e que lhe permitiria promover e produzir a mudança.
Freire defende que o diálogo supõe troca e que educar é construir, é libertar o homem do determinismo, do fatalismo. Considera essencial a identidade cultural, a estória de vida para a prática desta Pedagogia da Autonomia. Entende os seres humanos como seres autónomos e esta autonomia está associada à capacidade de transformar o mundo (e é isso que nos diferencia dos animais irracionais).
O método educativo de Freire é baseado na realidade cultural do educando (método de ensino democrático onde transparecem os princípios básicos da sua ideologia – os problemas educativos não são pedagógicos, são políticos -. Freire defende que a Educação só pode ser compreendida através do desenvolvimento da consciência crítica (baseada no conhecimento e na praxis do educando, tendo em conta o seu contexto cultural e estimulando a conscientização porque Freire nunca perde de vista que a finalidade desta pedagogia é alcançar uma educação libertadora e que inclua saberes abrangentes). O seu método propõe a utilização de temas geradores que aglutinem o interesse de todos e assim demonstrar o poder da palavra e que esta é pertença de todos. Valoriza saberes individuais e colectivos, de que cada um é portador, daí a importância do diálogo sempre presente na obra de Paulo Freire.
Para Freire, educar é libertar o ser humano, é “aprender a pensar certo, é um acto comunicante, livre de uma mentalidade burocratizada”. Defende a multiculturalidade e o respeito por cada identidade cultural com o fim de evitar uma educação elitista. Estimula a curiosidade, pretende que se respeite a dignidade e autonomia do educando considerando e valorizando os conhecimentos por eles adquiridos através das suas experiências.
Para Freire, a dialogicidade permite uma aprendizagem enriquecedora para ambas as partes porque a troca de experiências a isso dá lugar. (Ninguém sabe tudo, assim como ninguém é totalmente ignorante) e esta troca de saberes enriquece. Permite tomar consciência de que é possível intervir e provocar mudança no mundo. Mudança real na sociedade.
A Educação deve “ser atenta” e assim permitir tomar pulso aos anseios, desejos e sonhos do ser humano. Para os deixar “usar a palavra” recuperada.
Freire defende o internacionalismo e a solidariedade para a vivência e o respeito pela multiculturalidade. Freire aposta na conscientização, na reflexão rigorosa e conjunta, que a conscientização permitirá, para se conhecer a realidade em que se vive e então poder surgir, colectivamente, um projecto de acção para a mudança necessária.
Freire considerava que a Educação servia, também, para ajudar o ser humano a cumprir a sua vocação, a projectar a sua libertação e por isso a sua obra aponta para que o ser humano ganhe consciência crítica da sua realidade e a possa transformar através da praxis.
A Pedagogia de Freire assenta na Ética, portanto no respeito pela dignidade, autonomia e Liberdade.

Grupo: Ana Afonso nº32054; Ana Rita Morais nº32056; Carlos Sanchéz ERASMUS;
Élia Parente nº 7639; João Barros nº 32609; Lúcia Guerrero ERASMUS;Sandra Silva nº32066;Vera Varela nº30186

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