2007-06-14

A Escola da Ponte

No passado mês de Maio acompanhei um grupo de alunas e alunos do 4º Ano do Curso de Profesores do 1º Ciclo do Ensino Básico da ESE à Escola da Ponte, situada na Vila das Aves. Uma visita que todos os Educadores deveriam realizar. Poderia descrever o que tivemos oportunidade de observar...contudo, Ruben Alves escreve muito melhor que eu. Aqui deixo um texto deste autor sobre a Escola da Ponte, para aguçar a vossa curiosidade.

A Escola da Ponte vista por Ruben Alves

As linhas de montagem denominadas escolas organizam-se segundo coordenadas espaciais e temporais. As coordenadas espaciais denominam-se ‘salas de aula’. As coordenadas temporais denominam-se ‘anos’. Dentro dessas unidades espaço-tempo os professores realizam o processo técnico-científico de acrescentar sobre os alunos e alunas os saberes que, juntos, irão compor o objecto final. Depois de passar por esse processo de acréscimos sucessivos - à semelhança do que acontece com os objectos originais na linha de montagem da fábrica - o objecto original que entrou na linha de montagem chamada escola (naquele momento ele chamava ‘criança’) perdeu totalmente a visibilidade e se revela, então, como um simples suporte para os saberes que a ele foram acrescentados durante o processo. A criança está, finalmente, formada, isso é, transformada num produto igual a milhares de outros. Está formada de acordo com a forma, mercadoria espiritual que pode entrar no mercado de trabalho. Aí o meu companheiro de direcção contrária me perguntou se não seria possível mudar as coisas. Abandonar a linha de montagem de fábrica como modelo para a escola e, andando mais para trás, tomar o modelo medieval da oficina do artesão como modelo para a escola. O mestre-artesão não determinava como deveria ser o objecto a ser produzido pelo aprendiz. Os aprendizes, todos juntos, iam fazendo cada um a sua coisa. Eles não tinham de reproduzir um objecto ideal escolhido pelo mestre. O mestre estava a serviço dos aprendizes e não os aprendizes ao serviço dos mestres. O mestre ficava andando pela oficina, dando uma sugestão aqui, outra ali, mostrando o que não ficara bem, mostrando o que fazer para ficar melhor (modelo maravilhoso de ‘avaliação’). Trabalho duro, fazer e refazer. Mas os aprendizes trabalham sem que seja preciso que alguém lhes diga que devem trabalhar. Trabalham com concentração e alegria, inteligência e emoção de mãos dadas. Isso sempre acontece quando se está tentando produzir o próprio rosto (e não o rosto de um outro). Ao final, terminado o trabalho, o aprendiz sorri feliz, admirando o objecto produzido. São extraordinários os esforços que estão sendo feitos para fazer nossas linhas de montagem chamadas escolas tão boas quanto as japonesas. Mas o que eu gostaria mesmo é de acabar com elas. Sonho com uma escola retrógrada, artesanal...Impossível? Eu também pensava. Mas fui a Portugal e lá encontrei a escola com que sempre sonhara: a Escola da Ponte. Me encantei vendo o rosto e o trabalho dos alunos: havia disciplina, concentração, alegria e eficiência.


http://www.rubemalves.com.br/textocoversacoeducadores.htm

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