O Agente de Educação de Adultos
“ Quem educa o Educador?” - Como eu reflecti esta questão.
Antes de propriamente debruçar-me sobre a realidade do agente de Educação de Adultos considero pertinente tratar alguns aspectos referentes à Educação de Adultos.
Conforme se afirmou nas conclusões da V CONFINTEA (Conferência Internacional de Educação de Adultos) “há que aproveitar o seu enorme potencial em termos de contribuições para: uma cidadania activa e informada; a democracia, a justiça e a protecção dos direitos humanos; uma cultura de paz e tolerância; a igualdade entre mulheres e homens; o desenvolvimento científico, social e económico; o bem-estar geral e a redução da pobreza; a preservação do ambiente e outras questões interrelacionadas com um desenvolvimento sustentável (como a saúde, a população, nutrição, etc.). Assim, a EA é um elemento vital para um desenvolvimento simultaneamente centrado no ser humano, igualitária e ecologicamente sustentável.
Ao nível dos indivíduos e comunidades, a EA e, de forma mais global, toda a educação ao longo da vida, significam também a oportunidade de realizar o seu potencial, individual e colectivamente. Neste contexto a EA “pode configurar a identidade e dar significado à vida” devendo ter como objectivos, a promoção da autonomia, do sentido de responsabilidade, da participação consciente e criativa e da coexistência, reforçando a capacidade de fazer face às transformações em curso e de assumir o controlo do destino de cada pessoa e da respectiva sociedade. Desta forma a educação contribui para os adultos darem satisfação às suas próprias necessidades e às da sociedade.
Todavia para dar resposta às necessidades e desafios que actualmente se colocam aos indivíduos e sociedades, a Educação de Adultos, tal como foi considerada na conferência de Hamburgo, “sofreu profundas transformações e desenvolveu-se muito, tanto no seu alcance como na sua amplitude”.
Segundo DH, os trabalhos da V CONFINTEA acentuam uma visão da EA concebida em termos gerais e dinâmicos no quadro de um aprendizagem ao longo de toda a vida. Propõe-se portanto, um novo conceito da EA que seja simultaneamente holístico, para abordar todos os aspectos da vida, e transsectorial, para incluir todas as áreas de actividade cultural, social e económica, associando-se-lhe outro conceito, o da sociedade de aprendizagem, em que tudo oferece uma oportunidade de aprendizagem e de realização do potencial de cada um.
Mais especificamente, a visão da EA proposta implica uma necessidade de: complementaridade e continuidade entre a aprendizagem de adultos e a educação das crianças e jovens; uma interligação eficaz no seio dos sistemas formal e não formal, uma vez que, tal como HD, “por Educação de Adultos entende-se o conjunto de processos de aprendizagem, formal ou não, (...); um fortalecimento dos contextos de aprendizagem; abordagens participativas e centradas na pessoa adulta, que respeitem e reflictam a diversidade de necessidades e de características dos participantes( os conteúdos e processos deverão, portanto, ser variáveis, adaptando-se às necessidades das pessoas, dos grupos, das sociedades e a factores como a experiência vivida, a cultura, os valores, a língua, as disparidades económicas, a igualdade entre homens e mulheres, as incapacidades, etc.); uma atenção especial e um apoio activo à participação dos indivíduos/grupos tendencialmente excluídos , o que poderá implicar, nomeadamente, a garantia dos requisitos indispensáveis à aprendizagem(promovendo a consciencialização e o empowerment dos mais vulneráveis) e a intervenção sobre factores que constituam obstáculo ao acesso à educação e aprendizagem – só assim se poderá concretizar o princípio essencial do direito de todos à educação ao longo da vida. Existe ainda a necessidade de promover a aprendizagem, recorrendo nomeadamente à publicidade e facultar um orientação imparcial; de possibilitar o “reconhecimento e certificação das aprendizagens e por fim, implica a necessidade de um novo papel para o estado e demais actores implicados nos processos educativos.
Dos agentes de educação de adultos resolvi debruçar-me sobre o educador, na medida em que é aquele que mantém um contacto directo com o educando, tendo ele um importante papel na consecução, na colocação em prática das ideias, dos objectivos da Educação de Adultos.
É certo que toda a busca é o educando que a faz, mas ninguém realiza essa busca sozinho. Assim, o processo educativo é um processo intersubjectivo que exige um educador, cuja tarefa assemelha-se à de um médico: não é ele que cura as doenças, mas sim é ele que nos dá indicações terapêuticas para conseguir a cura, já que a priori não temos esses conhecimentos.
Para a realização desta comunicação, e dentro desta temática “o Agente de Educação de Adultos_ O Educador” alguns livros pesquisei, alguns artigos li...confesso que tive uma certa dificuldade em decidir como abordar o tema. Todavia, ao folhear um livro de Álvaro Vieira Pinto – Sete lições sobre Educação de Adultos – no tema: A Formação do Educador, encontrei uma pergunta que me fez reflectir... “Quem educa o Educador?” Essa questão fez-me parar a leitura…Reflecti…
“ Quem Educa o Educador?”... “Quem Educa o Educador?” Essa então foi a questão que várias vezes fiz a mim própria como forma de reflexão. Pensei... “Bem...Eu estou na Universidade, estou a adquirir conhecimentos para a minha futura profissão de Educadora Social...Tenho professores...Não serão os meus professores que me educam?”....Parei novamente a leitura... Após uns breves segundos decidi continuar a ler... “Deixa lá ver a opinião do autor”. E no seguimento da minha leitura, encontro termos já outrora debatidos e reflectidos ao longo do meu percurso universitário – Consciência ingénua, Consciência Crítica – segundo o autor esses são dois processos educacionais em curso da consciência social.
A consciência ingénua considera como educação nada mais do que o primeiro, e acredita que o esforço principal da educação deve consistir em retirar o aluno que se prepara para ser professor, das influências do meio e capacitá-lo somente para a instrução técnica, para o desempenho de suas funções, tal como Pinto. E, ainda, segundo o autor, o ponto de vista da consciência crítica é o oposto. Sabe que não haverá verdadeira função do professor senão mediante a intensificação das influências sociais e a compreensão cada vez mais clara que o educador tenha de que a sua actividade é eminentemente social, influi sobre os acontecimentos em curso no seu meio e só pode ser valiosa se ele admite ser conscientemente participante desses acontecimentos. Pergunto eu, e como forma de mostrar o meu ponto de vista, como instruir, ensinar, educar, formar o aluno, o educando o formando, sem levar em conta a realidade, o contexto de vida por eles experienciado?
De facto a questão da formação do Educador apresenta-se como um factor vital da educação. Por isso considero a questão “Quem educa o educador?” uma questão fundamental para a discussão do problema.
Pensando um pouco, para a consciência ingénua esta questão não tem sentido na medida em que lhe parece óbvio que quem educa o educador é outro educador, que o prepara para a sua missão. Surge então uma nova questão: Quem educa a este educador que agora está educando o outro?... facilmente apercebemo-nos de que esta resposta não faz mais do que estabelecer uma cadeia regressiva de educadores ao infinito.
Se de alguma forma concordarem com a ideia anterior, devem –se estar a perguntar... “Mas quem educa afinal o educador?” Não vos faz reflectir?...
Se pensarmos no fundo da questão... “ Como seres humanos o que é que contribui para a nossa educação, para a nossa formação?” essa foi outra questão que coloquei a mim própria. Pensei “ os meus pais, os meus irmãos, os meus tios, a minha família no geral que convive comigo, os meus amigos, os meus professores, os meus colegas, as funcionárias da escola, o padre, as catequistas, os meus vizinhos...” e parei novamente...perguntando “ o que significará isso?” “Como é que me influenciaram?” foi então que concluí que a minha formação, a minha educação assentou-se/ assenta-se na interacção com o meu mundo, ou seja o meu meio envolvente, e com a interacção com as pessoas que desse meio fizeram/fazem parte. Assim, a educação de cada ser humano é um constructo das experiências vividas em determinados contextos.
Sendo assim, será que não encontrei já a resposta para a questão “Quem educa o educador?” ?... Não será a Sociedade que educa o educador?
No meu ponto de vista são a sociedade, e a interacção do indivíduo com esta, as bases para a formação dos ideais, das formas de pensar e de agir de cada ser humano. É portanto, a sociedade que dita a concepção que cada educador tem do seu papel, do modo de executá-lo, das finalidades da sua acção, tudo isso de acordo com a posição que o próprio educador ocupa na sociedade.
Sendo assim como é possível consideramos lógica a concepção ingénua da educação, que a vê como algo objectivo? Sem dúvida, considero a educação algo subjectivo, na medida em que o indivíduo toma posição perante o mundo em que vive, e assim, também perante a educação, mediante o resultado das suas experiências de vida.
Agora vejamos em termos práticos. Eu, hoje, como vocês meus colegas, frequento o 2º ano do Curso de Educação e Intervenção Comunitária, da Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve, dada a minha intenção de seguir carreira profissional na área Social. Repararam que por detrás do meu interesse está toda uma estrutura: A Universidade, a Escola Superior de Educação, O Curso, os professores...
De facto, eu sou uma futura educadora que está a ser educada. Não obstante a importância de toda essa estrutura de formação e educação, para a minha formação profissional, de que serviria tudo isso, se essa formação não partisse do meu interesse?
Estou num curso que coloquei como primeira opção e a escolha não foi feita ao acaso, era o que realmente queria. Salvo raras excepções, considero que a maior parte das pessoas dá o seu melhor quando faz algo de que gosta. Quem me conhece sabe que a minha filosofia de vida passa por fazer com e por amor. Graças a Deus estou a fazer algo que gosto, tanto a nível profissional como a nível de educação. Desta minha experiência posso retirar a seguinte conclusão: Quem ama dedica e por isso semeia algo que dificilmente não será colhido como um bom fruto!
Assim, e para finalizar resta-me arrematar a ideia de que o educador e os seus interesses são resultado da sua interacção com o mundo, logo é a sociedade que educa o educador.
Discente: Lígia Pereira n º. 30173
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário